Quem vem lá?

quinta-feira, 28 de agosto de 2008

insPIRAÇÃO



É muito bom quando algum detalhe do dia a dia nos inspira a escrever alguma coisa. Basta estar atento e pronto, a sombra na parede se transforma numa figura, o poste de luz num monstrengo de vários braços e o apito da panela de pressão vira música.

Mas às vezes, escrever é uma forma de desabafo, é a válvula de escape para algo que transborda e ameaça implodir dentro da gente. “Escrever também é uma forma de pensar a vida”, e é a solução, talvez única, para quando algum sentimento nos aperta o peito.

A escrita é uma maneira de voltar no tempo, de dizer o que não foi dito, de aproveitar melhor o momento, ainda que apenas para alívio da alma. É um jeito de tentar entender o que ninguém pode explicar, como aquele dia, em que eu olhei pelo retrovisor do carro aquele menino indo embora com a mochila nas costas e logo a visão ficou turva por um choro que eu não sabia de onde vinha, por que vinha... E tive medo pensando ser um mau pressentimento, tive medo que algo de ruim lhe (ou me) acontecesse e esse temor consumiu meu coração uma tarde inteira. A sensação de “última vez” era iminente e eu só queria acreditar que era mais uma de minhas paranóias. Só que dessa vez tinha outro nome, era intuição mesmo. Graças a Deus não aconteceu nada de ruim, nem comigo nem com o menino da mochila, mas esse dia foi um divisor de águas. Aquela bifurcação no meio da estrada, sabe? Aquele momento em que algo lhe diz que tudo vai mudar. Mas quem falou que as mudanças também não são inspiradoras? A gente pira um pouco, mas logo, a nuvem volta a ser bicicleta, a árvore parece ter nariz e o fusquinha tem cara de ser um carro muito, muito feliz.


terça-feira, 26 de agosto de 2008

Yôga para iniciantes

(Com sorriso no melhor estilo playmobil no rosto:)
-Olá, Marina! Muito bem-vinda de volta ao Yôga!! Por que resolveu voltar?
-Ah, eu ando muito tensa por conta do trabalho, do trânsito que eu pego todo dia, acho que preciso canalizar melhor minhas energias antes que eu endoide (risinho histérico).
Luz azul. Cheirinho de incenso no ar. Som de cítara. Tiro os sapatos e reparo que esses sapatinhos melissa sempre me deixam com chulé. Bom, tem mais umas oito pessoas aqui, ninguém vai perceber que sou eu.
Sento-me em com as pernas cruzadas, fecho os olhos enquanto escuto o instrutor falar com voz de quem tomou um lexotan: “Imagine pequenos feixes de luz dourada envolvendo seu corpo”... Droga, por que eu nunca consigo imaginar uma coisa dessas? “Mantenha-se imóvel e com a respiração profunda”... Putz meu nariz tá coçando, meu pé está formigando, será que demora muito pra acabar?
“Pronto, vamos nos levantar”.. Ah é? E de que jeito se minhas duas pernas adormeceram? Levanto toda desajeitada e lembro-me do parto de girafas que assisti na Discovery dia desses.
“Coloque as duas mãos no joelho e traga o abdômen para dentro”... Meu Jesus, por que fui comer dois bifes antes de vir pra cá? “Vamos deitar e jogar as pernas para trás da cabeça”... Olha, evitar puns na aula de yôga renderia uma nova filosofia. Começo mentalizar: Calma Marina, não solte, concentra, segura esse pum, ôôôômm... Uau!! Estou meditando!!
Sentamos de novo. O instrutor caminha até mim, coloca as mãos nos meus ombros e... TUIM! Aperta de uma vez e certeiramente com toda força. Em pensamento: “AAAiiiii filho da puta!” Ele: Nossa Marina você está tensa mesmo hein. E eu com sorriso cerrado: Pois é né hehehe. Em pensamento “Na verdade eu não estava, mas depois dessa mordida de égua que você me deu enquanto eu estava desprevenida!!”A prática acaba e eu saio da sala mancando com as mãos nas costas. Quando vou indo embora, o intrutor me pergunta: “E aí Marina, tá namorando?” E eu, vidrada no movimento em slow motion de sua boca, entendo: “E aí Marina, está trabalhando?”, no que respondo arfante com a língua de fora “Ô se tô! Muito! Todo dia!”. Ele sorri constrangido com as sobrancelhas meio franzidas e eu vou indo até o carro enquanto me dou conta do que acabei de responder. Sinto meu rosto ficando vermelho e penso em não ir à próxima aula. Ah que vontade de ir pro trabalho e relaxar!

segunda-feira, 25 de agosto de 2008

Hoje é segunda-feira e decretamos feriado...


Ah a segunda-feira... Não sei por que se chama segunda se não há a primeira para nos preparar melhor. Devia haver outro dia entre o domingo e a segunda, um prefácio, um prólogo, qualquer coisa que amenizasse o impacto da segunda-feira, quando tudo se torna muito real, real demais.
E esse fim de semana fui à peça “Nossa Vida não vale um Chevrolet”. Parece que quando se trata do Mário Bortolotto todo mundo tem algo a dizer. Há quem seja fã, adepto de sua linguagem e estilo, há também quem odeie. E tem quem simplesmente respeita, sou desse último grupo aí. A peça foi boa, vale lembrar que não sou crítica, atriz, modelo dançarina ou coisa que o valha. Sou público. E vejo tudo o que posso despida de qualquer tipo de pré-conceito. E isso é muito bom pra mim. Se eu me interesso vou lá e prestigio. Não tem coisa que deixa mais empaspalhada do que neguinho que fica dando opinião sem conhecer bem a obra do cara, ou esponjando, sabe como é? Lê alguma coisa em algum lugar e sai proferindo “teses” como se fossem suas. Uó.
A peça conta a estória de três irmãos que são ladrões de carro e dois deles são lutadores de rua. Achei demais a atuação dos caras. De todo mundo, em especial a Fernanda D´Umbra. Ela faz a Sílvia, uma mulher carente que se envolve com as figuras mais bizarras para aplacar a solidão, passou o rodo nos três irmãos. Era cômico, mas muito triste. Nas cenas dela o povo se matava de rir, mas eu quase chorei. Aliás, todo mundo ria de tudo. Acho que tô ficando ranzinza. Acho um saco quando dão risada numa hora que não é pra rir, quebra o clima. Bom, posso dizer que valeu a pena, tanto pela peça quanto pela minha companhia, a Nayara. Doce Nayara... Tem épocas da minha vida que eu queria morar dentro do seu cabelo.
Mas deixemos esse papo de fim de semana pra lá, até porque o meu foi bem etílico e ficar pensando nisso na segunda já me parece nostálgico. "Outra vez vou me esquecer, pois nestas horas pega mal sofrer. Da privada eu vou dar com a minha cara de panaca pintada no espelho e me lembrar, sorrindo, que o banheiro é a igreja de todos os bêbados".


Metamorfoses- Que tudo muda o tempo todo no mundo o velho Tim Maia já havia nos alertado. Mas e quando, num curto espaço de tempo, um monte coisas começa a mudar? Você se vê na necessidade de ser o mais flexível que puder, porque não adianta oferecer resistência, as pessoas mudam, a vida muda e pronto. Você querendo ou não. As mudanças podem ser superficiais, uma franjinha nova, um caminho diferente ou um cara que era nerd na escola e vira doidão, um dia te encontra na rua e ainda te chama de careta. E também podem ser mais profundas, mudanças de valores mesmo. Mas essência... essa é uma só. E quando me surpreendo com uma mudança repentina, logo acredito que a essência das coisas sempre foi única, que talvez fosse eu que não me dei conta. Nesse caso me apego à minha. Confio nela. E ela não muda. Tipo o cabelo da Nayara. E ah...Um dia eu ainda moro lá.

sexta-feira, 22 de agosto de 2008

Mudando de estação

Ouvindo Nouvelle Vague hoje de manhã no metrô, me senti num filme. A música “Dance with me” foi repetida várias vezes, grande é a minha capacidade de encarnar nas músicas e ouvir a mesma inúmeras vezes. Pelo menos era no MP3 (é, eu não tenho um Ipod, meu celular não tira boas fotos, iphone nem pensar e, aliás, meu MP3 está quebrado) e sendo assim não incomodo ninguém. O câmera ficaria bem ao meu lado, e eu, fingindo indiferença, olharia pela janela enquanto ele enquadraria minha nuca e o fecho do meu brinco que eu ajeito o tempo todo com medo de perder. Blasé, praticamente uma francesa em plena estação Praça da Árvore. “Sur la place arbre”. Os outros passageiros eram os figurantes. E o moço sentado à minha frente, o mocinho que eu encontraria em outra ocasião e se tornaria o protagonista. Ele estaria na primeira fileira de pessoas que me observavam enquanto eu cantava lindamente “Dance with me” com uma guitarra num inferninho qualquer cheio de fumaça. Depois ele me ofereceria sua cerveja quente e suas sardas virariam inspiração para minhas próximas canções.
Próxima estação: Paraíso. Bom seria se fosse ao pé da letra, eu desceria do metrô e me depararia com o paraíso, tiraria meu all star já imundo do pé e sairia distribuindo abraços apertados nos meus amigos que estariam ali só me esperando, com porções de calabresa acebolada, pãozinho e vinagrete.
Cheguei, Consolação. Será que quando eu descer vai ter alguém ali pronto pra me consolar?

quinta-feira, 21 de agosto de 2008

Terra à vista


É hora de acertar as velas e deixar o barco correr. Velas enroladas fazem o barco girar em círculos. Círculos também são bons, são ciclos infinitos, seguros. Não quero nada infinito. Quero que trancorra leve, em várias direções, como os pensamentos que aqui pretendo relatar.




Beijos a todos. Sinta o vento no rosto...