Quem vem lá?

sábado, 20 de setembro de 2008

Carta da Insônia

Noite fria passando na minha janela. Já não me sinto só defronte dela, me chega doce o gosto da madrugada. Mais doce ainda é saber que a essa hora deves estar dormindo, leve e puro, depois de mais um dia que a vida te deu.
Mas é doçura que sabe a sal no mais azul do peito onde o amor sofre a pena malferida de ser tão grande e tão imperfeito.
Pois aqui está a minha vida. Pronta para ser usada. Vida que não se guarda nem se esquiva, assustada. Vida sempre a serviço da vida. Para servir ao que vale a pena e o preço do amor.
Ainda que o gesto me doa, não encolho a mão: avanço levando comigo um ramo de sol. Mesmo sozinha dentro da noite mais fria, a vida que vai comigo é fogo: está sempre acesa.
Estou no centro do rio, estou no meio da praça. Piso firme no meu chão, sei que estou no meu lugar, como panela no fogo e a estrela na escuridão.
O que passou não conta? Indagariam bocas desprovidas...Não deixa de valer nunca. O que passou ensina com suas pedras e seu mel. Por isso é que vou assim no meu caminho. Publicamente andando.
Minha casa encantada, onde moro e mora em mim, te quero assim verdadeiro. Cheirando a livros e fogueira. Vida, toalha limpa, vida posta na mesa. Há que merecê-la.
Reparto tudo contigo hoje e sempre, porque chegou num caminho longo e luminoso mas que também se faz áspero às vezes, onde nossas origens se abraçaram e certa vez não conseguiram dissolver em paz nossas diferenças. Somos seres humanos, vivemos sob esta condição não é meu querido e doce menino? Deixamo-nos levar por um momento por aquilo que desune o mundo dos homens que foram feitos para cantar juntos, porque só juntos saberão chegar para a festa de amor que se prepara.
É tempo de cuidados... cada um no seu lugar, na sua vez, não descuidar na espreita do destino que não dorme jamais e é cheio de olhos. E derramar a luz... no instante certo. É uma espera que dói um pouco...sim. Mas ninguém será sozinho nunca mais. Sempre estarei contigo e é quando sonho que te guardo e durmo à luz do seu lampião em sépia.
Você pra mim é amor. Da cabeça aos pés. Grandes coisas simples aprendi contigo, com teu jeito, teu prumo, tua crença e com a linhas da minha mão. Com você aprendi que o amor se reparte, mas sobretudo acrescenta, e a cada instante aprendo mais com teu jeito de andar pela vida, como se caminhasse de mãos dadas com o ar, com teu gosto, com a luz do teu sorriso, tuas delicadezas secretas e a alegria do teu afeto maravilhado.
Posso ouvir nesse instante sua voz radiosa que sai da boca inesperada como um arco-íris partindo ao meio e unindo os extremos da vida, e mostrando a verdade como uma fruta aberta... Deixo que isso passe por mim.

terça-feira, 16 de setembro de 2008

Então essa é a minha cara. E a sua?

Tá de saia rodada, sandália rasteira, deve ser hippie. Deve gostar de rodinha de violão. Deve ir pra Caraíva todo verão e passar o mês todo descalça. Aposto que tem um namorado com cara de sujo.
Aquele tá de calça skinny e all star. Deve ser alternativo esse aí, gosta de rock inddie e deve colar no Vegas ou coisa parecida. Seus amigos devem competir pela calça mais apertada e ele deve achar o máximo butecar na Augusta e usar os lenços palestinos que entraram na moda. Bem diferente daquele ali, que tá de camiseta curtinha, mostrando os braços marombados enquanto mexe em suas correntinhas de prata, deve ir pra Maresias de fim de semana, balançar os bíceps ao som de música eletrônica.
O pré-conceito é inevitável (no sentido de pré-julgar mesmo, não repudiar), mas as pessoas buscam por isso, querem sempre criar uma imagem que venha de encontro ao que desejam que as outras pessoas pensem dela.
E isso vai além da maneira de se vestir, tem muita gente mais preocupada com a opinião que gera por aí, do que transformar alguma coisa importante dentro de si mesmo.
Como se fosse obrigatório pertencer a uma tribo, como se isso trouxesse algum tipo de auto-afirmação. Como se fosse possível alguém se amparar no elenco de coisas que “juntou” para representá-lo. Uma muleta social. É como se mais importante do que as atitudes de uma pessoa, fossem as roupas que ela usa, o som que curte, as gírias que diz, o estilo de seus amigos ou as bostas das comunidades que ela exibe na bosta do orkut.
Eu? Eu não sou porra nenhuma. Não sou alternativa, descolada, Cult, pau no cu. E não acho que eu precise ficar provando o que eu sou através de qualquer outro meio que não seja minha postura com a vida, com as pessoas. A vida real, dá pra entender?
Ninguém é muito diferente ninguém, todo mundo tem uma noite de insônia, um dia de fúria, um dia de amor louco, de dor de barriga, todo mundo tem que fazer uma correria, todo mundo deveria fazer alguma coisa pro bem e nem por isso sair cornetando por aí o quão bem feitor se é. Não precisa ir ao Criança Esperança. Seja gentil com quem tá na vida contigo.
Vivemos numa era de extremos, isso só traduz insegurança, uma grande ansiedade pra mostrar uma versão do que se é, pra dizer que é verdade. Medo que o diferente, talvez seja igual.
Uma cara, uma fração, não me completa.

sexta-feira, 12 de setembro de 2008

Festa!!


Antes de mais nada, três vivas à sexta-feira!! Viva!! Viva!! Viva!! Tim tim meu amigo, o dia mais esperado da semana chegou. Muita coisa boa está pra rolar, mas quero dar o toque de uma em especial: A banda Manifesto da Loucura vai tocar no bar e centro cultural Cidadão do Mundo, em São Caetano, no sábado. E eu que sou chegada numa festa da pesada, não deixarei de dar o ar da graça. O Projeto Paralelo também vai tocar, só som da massa. As bandas são do ABC, tocam sons próprios e covers de Tim Maia, Seu Jorge, Raulzito, entre outros.
Se estiver pelo ABC esse fim de semana não vacile e apareça no Cidadão do Mundo. Cervejinha a preço justo, boa música e gente bacana. È muito ou quer mais?
Eu sou muito fã do Manifesto, é uma pena os caras não terem um site decente pra eu indicar. Curto muito as letras dos sons deles... Cada época me apego em uma música. A última que me tocou de alguma maneira chama-se “Contradição” e é de autoria de meu grande amigo Golês, um sujeito gente boníssima que veio direto da Goléia. Vou transcrevê-la aqui, use a imaginação e pense em rifles de guitarra:
"Entrou em contradição não fazendo o que falou.
Busca sempre estar de bem, porém, seu coração...
Bateu mais forte e ele seguiu, sua raiz continuou pra garimpar.....O que um dia ele deixou pra desfrutar o que é banal
mas se libertou...... do caos.
Não mudar é resistir contra a própria criação,
onde abriga um doce lar, pra morar e construir
Uma viajem sem pensar naquela velha tradição, ganhar perder ou só fazer, que está em suas mãos obstruindo o canal
mas se libertou...... do caos."
Janelas de Marina Informa:
Cidadão do Mundo
Rua Rio Grande do Sul, n.73, São Caetano do Sul- Centro
Entrada: 5 pilas

Bora lá negada??
ps: na foto acima, eu molhando as palavras no último show do Manifesto (06/09) e ao fundo minha mãe pirando no sonzinho... yeah mama

quinta-feira, 11 de setembro de 2008

Ciranda da Bailarina


Toda vez que eu falo que faço balé a reação é a mesma. Risada. Explico: Tenho 1.78 de altura. Mas até aí, a Cláudia Raia também é grandona e bailarina de primeira. Aliás, quando era criança minha vó dizia que eu tinha pernas da Cláudia Raia e eu ficava puta (claro, era na época da Tancinha). E tem outra: eu não fiz balé quando era criança, comecei depois de velha (aos 25) mesmo. Qual o problema? Não tem gente que muda de profissão? Que vira Hare Krishina? Que resolve dar a bunda? Por que não posso fazer balé?
Eu sei que eu levava mais jeito pra ser jogadora de basquete, rúgbi, lançadora de disco, chutadora de canela... Mas fazer o quê se por trás dessa carcaça comprida há uma alma feminina e delicada?
Já tentei circo, mas como trapezista me saí uma ótima jornalista. Sem contar que os colchões que a gente usava tinham cheiro de cheetos bolinha. E de repente eu me encontrei no balé. É maravilhoso ao fim do dia calçar as sapatilhas e dançar ao som de música clássica, é lindo, lúdico, um momento todo meu.
Na ponta dos pés eu vejo adiante, e fico grande o bastante para assombrar qualquer coisa que venha inquietar esse meu coração. Os pés doem, mas todos os pés que estão realmente no chão doem. A cabeça permanece ereta, e o sorriso... o sorriso nêgo, é obrigatório! O resto é sentir a música, aliar-se a ela, deixar que venha de dentro. E se perder o passo, é só voltar atrás, se cair, é só dar uns tapinhas na bunda pra tirar a poeira e seguir em frente.
As paixões podem ser tardias, e em nome dessa que me faz tão bem, eu aturo as chacotas que ouço. Pode rir, ri, mas não desacredita não. Porque nunca foi do meu feitio não me arriscar nas coisas por achar que não são pra mim.
Outro dia, durante uma aula, ao som de piano, estava errando tudo e me senti num filme do “Gordo e o Magro”. Aquilo foi suficiente para desencadear uma crise de riso sem fim, eu me olhava no espelho vermelha de rir e sabia que se eu explicasse ninguém acharia tanta graça. Só eu era cúmplice do meu auto-escracho. Agora me diz, tem como eu não amar uma coisa que me lembrou o quanto é importante e delicioso rir de si mesma?

terça-feira, 9 de setembro de 2008

Meu bem você me dá água na boca

O relógio da igreja anuncia as vinte e duas badaladas, meu corpo está cansado e entregue ao sofá depois de mais um longo dia de labuta, mas ainda tenho força pra pensar em você (tenho que ter). Nada nessa hora me parece tentador, a TV está ligada sozinha, arrisco um som, nada me conquista. Sei que não há saída, eu tenho que pensar em você. Levanto e não resisto a uma breve olhada no espelho quando passo, as pessoas tem comentado que tenho emagrecido, finjo-me envaidecida, mas admito só pra mim que é por sua causa. E não há nada de glamoroso nisso.
Você passa o dia todo comigo. Chega a pesar nos meus braços, seu cheiro está impregnado em tudo e eu tenho a impressão que todos no metrô também o sentem. Entorpece-me. Enoja-me. Mas sei que só você mata minha fome.
Sei que falta pouco pra eu te ver. Não consigo disfarçar minha ansiedade quando essa hora se aproxima e já sinto seu calor em minhas mãos.
Você é uma das últimas coisas que penso no meu dia e uma das primeiras ao acordar. Não posso te esquecer. Penso em como é gostoso te preparar antes de dormir, me enche de água na boca, só não sei por que, em poucas horas você já não está como deixei, é pura confusão, tudo misturado, me confunde também, nunca sei por onde começar. Se eu pudesse passaria o tempo todo te olhando, pra nada sair do lugar, mas você sabe, eu não posso, trabalhar é minha sina, mas nossa hora sempre chega. Faz tão pouco tempo que a gente se conhece, mas tanta gente falava de você pra mim, eu só não imaginava como seria ter você todos os dias comigo. Virou uma necessidade, só você me sacia. Às vezes você me enjoa, me cansa, me dá trabalho, mas no meio do meu dia, é só eu e você. Enquanto te esquento observo minha imagem na janela ao lado, chego a passar a língua nos lábios e penso que isso é quase tão erótico quanto o biquinho que faço na hora de aspirar a bombinha de bronquite. Mas isso você não vê. E enfim você chega, toda quentinha, eu como você bem gostoso e já começo a pensar como você estará no dia seguinte, minha marmita.

quarta-feira, 3 de setembro de 2008

A incrível arte de fazer escolhas

Conheço poucas pessoas que sabem realmente fazer escolhas. O que significa que elas tomam decisões e não ficam se lamentando pelo que ficou de fora de seus planos. E acho que quem faz isso é dotado de amor, pois só por amor verdadeiro alguém deixa que as coisas tomem o rumo que quiserem a partir do momento que abriram mão delas. Fazem jus à minha admiração, pois escolher de verdade é pra poucos. E confesso que tenho uma dificuldade tremenda com isso, não reconheço muito bem o momento em que os ciclos exigem uma decisão. Mas uma hora ela vem, normalmente impulsionada por um limite ultrapassado, uma raiva necessária, um apelo da vida para que a passividade diante das escolhas alheias vá pra casa do caralho. E aí ela vem, chega feito vendaval arrombando janelas, tremendo o chão, pesando toneladas e ensurdecendo os ouvidos. Chega na proporção do meu desejo por liberdade, do meu prazer em suspirar aliviada, na alegria da minha voz quando digo do fundo meu coração: “Vai com Deus”. A sensação posterior é de encantamento com o que está por vir, pelo desconhecido, sede de vida.Quando não fazemos escolhas por inteiro, a vida trata de fazer por nós, aí depois não adianta reclamar que não era bem isso o que queria. Eu demoro muito pra fazer uma escolha, levo muitas coisas em questão, penso repenso, penso de novo. Mas de repente, ela chega pra acabar com toda angústia, para dizer que não ficou nada por dizer, que as rédeas da minha vida estão em minhas mãos, que sou autora da melhor história do mundo, que é a minha, pra dizer que eu estou aprendendo e tudo será bonito, como nunca deixou de ser. E hoje digo que chega. Eu escolho ser feliz. Um brinde!

segunda-feira, 1 de setembro de 2008

Eu e meu parceiro

- E agora vamos receber o segundo casal da noite! Uma salva de palmas para Pablo e Marina!
Neons piscam vertiginosamente em meio ao gelo seco que embaça a carinha de uma pequena multidão de pré-adolescentes ávidos por uma pagação de mico na beira do palco. Entro com minha saia rodada e avisto do outro lado o meu irmão. Vestido com uma roupa à la Piratas do Caribe e pesando o mesmo que pesa hoje, com quase 1.90m de altura.
“Chorando se foi quem um dia só me fez chorar, chorando se foi quem um dia só me fez chorar...” O som ecoava pelo pátio da escola enquanto eu mostrava meu requebrado digno de abertura de novela, pra deixar os bailarinos do Beto Barbosa no chinelo. Iniciamos o bate-coxa fraternal (aquele que fazemos projetando a bunda para trás, com medo de encoxar o parceiro) e o pessoal acompanhava com palmas e gritinhos de “Uh! Uh!” lá embaixo.
“Chorando estará ao lembrar de um amor que um dia não soube cuidar...” Nos afastamos e eu me preparava para fazer o passo carro-chefe de nossa apresentação, aquele em que a dançarina pulava no colo do cara, que jogava seu corpo de um lado para o outro. Era a carta na manga, o creme de la cream. “A recordação vai estar com ele aonde for...”. Corri. Pulei com as pernas arqueadas na cintura do meu irmão. E vi, em câmara lenta, a platéia mudando de ângulo, a cara de assustado do meu irmão e depois, o estrondo de nós dois caindo para trás comigo montada em sua barriga, foi praticamente um golpe. A partir daí, as gargalhadas tomaram conta de tudo e eu saí correndo deixando meu irmão jogado feito um leão marinho de lencinho na cabeça no chão.
Eu e o Pablo passamos por várias outras situações de enrubescer o rosto na infância. As dancinhas em datas comemorativas, as fantasias que minha mãe sempre improvisava (Isso o pessoal até deixava quieto porque achavam que nossos pais eram hippies), as fotos lá em casa não mentem: Nós fomos crianças incrivelmente engraçadas e desastradas. Com a diferença que o Pablo tirava boas notas. O tempo passou e hoje ele faz 29 anos. O menino de kichute com os cadarços amarrados nas canelas cresceu e tornou-se, acima de tudo, um homem de bem. Continuamos rindo dos desastres um do outro, que hoje são profissionais, amorosos, etc. Dia desses, ele ficou uma tarde inteira sentado na minha cama enquanto eu lia. Sem fazer nada, só ficou ali. Eu levantei um pouco os olhos, abaixando devagarzinho a capa do livro e o espiei com carinho, dando-me conta que ele é, com certeza, a melhor pessoa que eu conheço.