Quem vem lá?

sexta-feira, 27 de fevereiro de 2009

Mania de explicação


Sou uma grande admiradora daquelas pessoas que conseguem ser bem sucedidas naquilo que fazem. Em especial quem opta por trilhar caminhos não tão fáceis, como os atores, cantores, escritores, poetas, roteiristas, etc. Principalmente esses últimos, com os quais mais me identifico. Ser roteirista no Brasil só dá dinheiro na televisão, não digo isso por mim. Quem disse isso foi a Adriana Falcão, em entrevista recente à revista TPM. Ela é uma das roteiristas da “Grande Família”, eu já curtia muito o trabalho dela, e mais ainda quando descobri que ela escreveu alguns livros infantis, “Mania de Explicação” é um deles. Adriana Falcão não é apenas uma das melhores roteiristas que eu conheço, é uma mulher batalhadora, que passou por altas bad trips durante a vida, mas consegue ver tudo com bom humor: Talentosa, bem sucedida, casada com o lindo João Falcão e até bonita a danada é. Quando crescer, quero ser que nem ela. Estou meio sensível e o tal livro me achou. Fiquei super entretida, me identificando, pensando em algumas definições que ele trazia, me deu uma sensação tão boa, mas tão boa... E agora divido por aqui:

Era uma menina que gostava de inventar uma explicação para cada coisa.
Explicação é uma frase que se acha mais importante do que a palavra. As pessoas até se irritavam, irritação é um alarme de carro que dispara bem no meio de seu peito, com aquela menina explicando o tempo todo o que a população inteira já sabia. Quando ela se dava conta, todo mundo tinha ido embora. Então ela ficava lá, explicando, sozinha.
Solidão é uma ilha com saudade de barco. Saudade é quando o momento tenta fugir da lembrança pra acontecer de novo e não consegue. Lembrança é quando, mesmo sem autorização, seu pensamento reapresenta um capítulo. Autorização é quando a coisa é tão importante que só dizer "eu deixo" é pouco. Pouco é menos da metade. Muito é quando os dedos da mão não são suficientes.
Desespero são dez milhões de fogareiros acesos dentro de sua cabeça. Angústia é um nó muito apertado bem no meio do sossego. Agonia é quando o maestro de você se perde completamente. Preocupação é uma cola que não deixa o que não aconteceu ainda sair de seu pensamento.
Indecisão é quando você sabe muito bem o que quer, mas acha que devia querer outra coisa. Certeza é quando a idéia cansa de procurar e pára. Intuição é quando seu coração dá um pulinho no futuro e volta rápido.
Pressentimento é quando passa em você o trailer de um filme que pode ser que nem exista. Renúncia é um não que não queria ser ele. Sucesso é quando você faz o que sempre fez só que todo mundo percebe. Vaidade é um espelho onisciente, onipotente e onipresente. Vergonha é um pano preto que você quer pra se cobrir naquela hora. Orgulho é uma guarita entre você e o da frente.
Ansiedade é quando faltam cinco minutos sempre para o que quer que seja. Indiferença é quando os minutos não se interessam por nada especialmente. Interesse é um ponto de exclamação ou de interrogação no final do sentimento.
Sentimento é a língua que o coração usa quando precisa mandar algum recado. Raiva é quando o cachorro que mora em você mostra os dentes. Tristeza é uma mão gigante que aperta seu coração. Alegria é um bloco de Carnaval que não liga se não é fevereiro.
Felicidade é um agora que não tem pressa nenhuma. Amizade é quando você não faz questão de você e se empresta pros outros. Decepção é quando você risca em algo ou em alguém um xis preto ou vermelho. Desilusão é quando anoitece em você contra a vontade do dia. Culpa é quando você cisma que podia ter feito diferente, mas, geralmente, não podia. Perdão é quando o Natal acontece em maio, por exemplo. Desculpa é uma frase que pretende ser um beijo. Excitação é quando os beijos estão desatinados pra sair de sua boca depressa. Desatino é um desataque de prudência. Prudência é um buraco de fechadura na porta do tempo.
Lucidez é um acesso de loucura ao contrário. Razão é quando o cuidado aproveita que a emoção está dormindo e assume o mandato. Emoção é um tango que ainda não foi feito. Ainda é quando a vontade está no meio do caminho. Vontade é um desejo que cisma que você é a casa dele. Desejo é uma boca com sede. Paixão é quando apesar da placa "perigo" o desejo vai e entra.

Amor é quando a paixão não tem outro compromisso marcado. Não. Amor é um exagero... Também não. É um desadoro... Uma batelada? Um enxame, um dilúvio, um mundaréu, uma insanidade, um destempero, um despropósito, um descontrole, uma necessidade, um desapego?

Talvez porque não tivesse sentido, talvez porque não houvesse explicação, esse negócio de amor ela não sabia explicar, a menina.

sexta-feira, 20 de fevereiro de 2009

Desapego







Do dicionário aurélio: desafeição; desinteresse; desamor; indiferença; desprendimento.
Se colocar no Google, 417.000 resultados aparecem. E como é que nada disso consegue traduzir o que eu sinto, ou melhor, o que eu preciso? Será que o desapego é dom exclusivo de sagitarianos e freqüentadores de micareta?
Ontem cheguei em casa um pouco embriagada. Estava contente porque encontrei vários amigos que não via há tempos e o fato de eu ficar a noite toda pagando quase 6 mangos numa long neck foi compensado. Um amigo perguntou se eu havia comprado meu vestido na liquidação de réveillon. Poxa, faço de tudo pra caprichar no figurino e o cara me vem com essa... Mas depois, pensando por outro lado, fazia um puta tempo que não o encontrava. E amigo que é amigo é assim. Já chega zoando. Quando o vi, não pensei em perguntar ironicamente “e aí tem saído muito, tá na balada né?” ou então: “Você deve estar conhecendo muitas outras amigas por aí, não é mesmo??” Simplesmente porque eu posso ficar um baita tempo sem vê-lo e nada vai mudar, meu carinho continua o mesmo, quero mais é que ele se divirta. Isso deve ser amor. Aí nós vamos embora. Ele me abraça e diz “Adorei te ver Má, a gente se fala”, e o incrível é que não perco nem um milésimo de segundo pensando “Mas será que ele vai ligar mesmo?”. Só não sei por que não consigo agir assim sempre. Apego se disfarça de amor. Não só ele como a culpa, a carência, a solidão, etc. Mas eu tô ficando escolada e conseguindo enxergar com minha visão mira laser com nigth shot quando algum desses sentimentos zombeteiros colocam óculos de disfarce (saca aqueles com narigão, bigode e óculos?) e tenta se passar por amor.
Só não sei onde fica o desvio das minhas idéias. Esse software instalado na minha caxola que não me deixa dizer as coisas que eu realmente sinto. É como se ao passar pela minha boca as idéias se confundissem, o que era branco fica preto, o doce, amargo etc. Talvez eu precise mesmo é me desapegar um pouco daquilo que eu acho que eu sou. Pra tentar começar de novo. Acho que eu preciso morrer um pouco. Acho que a saudade e o receio estão me deixando no elo. Acho, também, que to virando emo.

terça-feira, 17 de fevereiro de 2009

A Estação da Vida


Às vezes a gente passa pelo tempo de mansinho, fingindo não perceber quando um ciclo de vida acabou e outro vai começar. Faz-se de morto pra comer a bunda do coveiro, mas não tem jeito, a vida vem com os dois pés na porta e somos obrigados a nos dar conta. Da finitude das coisas. Dos desencontros. Uma vida sentido Jabaquara, e outra Tucuruvi. Uma se cansa enquanto outra se aquece pra entrar em campo. E não digo isso por razões empíricas. Na verdade até meu espelho já se cansou das minhas razões e meus amigos tomam a cerveja toda do copo num gole só quando começo divagar sobre elas. Ando mesmo repetitiva, prolixa e sem capacidade de síntese.
Então se alivie. O assunto não sou eu e nem minhas perturbações. O caso é que essa semana encontrei uma amiga prestes a dar a luz. Minhas matutações começam daí. Por que ela é mais nova que eu, e aí meu primeiro pensamento é: Nossa, tomara que ela dê conta, ela ainda precisa da mãe dela e vai ser uma. Imagine só, ser para alguém o que minha mãe é para mim! Segundo pensamento: Antes ela do que eu. Terceiro pensamento: Porra, mas eu também queria ser mãe, será que vai demorar muito?! Acho que sim, no momento conto as moedas pra comer lanche de pernil na porta do jogo e me faltam candidatos. Mas olha, acho que eu daria uma mãezona, imagine só: um molequinho dentucinho e bonachão, jogando bola na frente da minha casa com a camiseta do Corinthians! (sinto que nesse instante os candidatos diminuem ainda mais)
Já era tarde e eu estava fazendo hora extra no chá de bebê, aí a Michelle senta com sua barriga de melancia e todo mundo fica atento olhando porque ela diz que a Eva está mexendo e eu sou a única que não enxerga nada. Vou com meus olhos arregalados pra perto dela, tento um novo ângulo e nada, penso que fumaça do narguilé está me atrapalhando (super consciente, o pessoal). Até que ela, linda como nunca, coloca minhas mãos na sua barriga. Penso em fazer um pedido. Vai que funciona né? Tipo Buda, vai saber. Pensamento interrompido por um movimento. Fico careta, abismada, beje. Ela aperta ainda mais minha mão contra a barriga, que afunda. Eu não sabia que afundava e fico horrorizada. Sinto a Eva, a Mi me explica que ali é o pezinho. Entro em parafuso, fico maravilhada e meio assustada (tanto é que, num ato inexplicável e vergonhoso, comecei esfregar mão na minha blusa, com aflição). Dali pra frente foi que me dei conta que de fato havia uma vidinha ali, uma pessoa como eu e você. Até então a Mi estava com uma baita pança e um dia teria um bebê. Simples assim. Agora não, era uma vida e eu me via totalmente apaixonada por ela. Louca pra tocar aquele pezinho sem a barreira da barriga. Aí eu entendi tudo, no porquê dela estar tão feliz e com os olhos mais brilhantes do que nunca, mesmo tendo perdido todas as calças e não conseguindo dormir.
Por outro lado um grande amigo assiste do alto de sua impotência, sua mãe habitar o sono profundo do coma. Duas preparações diferentes, expectativas no extremo de todas as dicotomias. Em uma casa, o milagre da vida é celebrado, o que não deixa de acontecer na outra casa: A vida que se fez, que deixa frutos e que, quando superar tudo isso, será celebrada como no começo. De qualquer forma, temos muito a comemorar. Pela vida da Eva, prestes a começar, e pela vida da Anita, grande mulher, que criou grandes homens, e hoje nos ensina a olhar pra vida com mais amor. Salve.

quarta-feira, 4 de fevereiro de 2009

Matutações




Você sabia que nem todas a borboletas nascem de um casulo? Algumas borboletas são pétalas de flores que decidiram voar. Mas todas as lagartas serão borboletas e das folhas e flores que se alimentam virão as cores de suas asas. Veja....até algo que tem raízes, uma hora pode mover-se livre. Mas isso nem todos veem. Pena que seja para poucos. Há aqueles que insistem em viver o velho. Pois o velho também sempre traz algo de novo. Não é a mesma coisa que o novo. Não é tão fresco. Nem é de tanta entrega.


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Trecho de um livro lindo:


E quando te houveres consolado (a gente sempre se consola), tu te sentirás contente por me teres conhecido. Tu serás sempre meu amigo. Terás vontade de rir comigo. E abrirás às vezes a janela à toa, por gosto... E teus amigos ficarão espantados de ouvir-te rir olhando o céu. Tu explicarás então: 'Sim, as estrelas, elas sempre me fazem rir!' E eles te julgarão maluco. Será uma peça que te prego..."