Quem vem lá?

terça-feira, 7 de dezembro de 2010

Era dos extremos

Foto: Anna. Vienna/2010
O olho por fora, o dente por dentro
Meu riso na cara do tempo
O olho por dentro, o dente por fora
Meu riso na boca do vento
(Depende- Mpb4)
31 de dezembro de 2009. Era a primeira vez que não passaria o ano novo na praia, fechar esse ciclo sem pular sete ondas e sem emporcalhar o mar com mais uma rosa era desanimador. Mas estava prestes a entender o que era fechar ciclos de verdade, e pra isso não havia rituais e nem hora marcada.
Saia branca e blusinha laranja. Gosto dessa cor, dizem que tem a ver com fertilidade. Chuva, fogos, pessoas. Acendi uma vela pra Yemanjá e a enfiei com dificuldade na grama. Rezei, agradeci, pedi proteção e discernimento. Logo a brincadeira do destino começaria.
01 de janeiro de 2010. Sensação de que a vida simplesmente continuava, e seria essa a premissa que me guiaria pelos próximos 365 dias. Amostra grátis, comecei no lucro.
Longe de querer fazer essas retrospectivas que só gente insone acompanha, digo apenas que daí pra frente experimentei dicotomias.
Morri de água na boca e por outras vezes engoli a seco. Tentei achar palavras ideais, perdi a voz. Tive muita saudade, quis esquecer, mas acabei lembrando. Uma vez, dentro do carro, roubaram minha fé. E num assalto, roubaram o carro.
Pensei demais. Pedi a Deus para parar de pensar. Pedi a Deus pra não deixar de acreditar. Sonhei acordada, vivi sonhos. Nunca tão magrela, cintos no último furo. Nunca tão gostosa, calças apertadas e risos de açúcar cristal. Vontade de dormir não e acordar, por outras vezes insônia, anotando planos, listas. Não posso esquecer meu caderno de capa florida. Não posso esquecer quem eu era antes de tudo.
Senti-me largada à própria sorte. Senti-me a mulher mais sortuda do mundo! Tive vontade de agradecer a quem me mostrou a cara da mentira. Obrigada por me mostrar o quanto sou forte. Olhei-me no espelho e pedi calma. Olhei de novo e me vi mulher.
Brochei, perdi o tesão. Por outras vezes o coração disparou, euforia. Senti- me molhada até as coxas. Aceito mais uma taça.
O mesmo caminho a pé todos os dias de manhã. Os pés tocando solos onde jamais imaginei estar. Num dia injustiça, no outro gratidão. Cheguei onde queria. Aprendi querer mais.
Passei raiva, passei por isso. Chorei de cansaço. Chorei de rir.Achei que o tempo parou pra mim. E quando me dei conta já era dezembro. O último mês do ano mais intenso que vivi. Cada minuto, mortes e renascimentos, gostos e desgostos. Mais gostos. Gosto de lembrar o que passou. Escolho o que trago comigo. Gosto da cumplicidade, de pensamentos que são só meus, de risos alegres e tristes que deixo escapar quando ninguém vê. E gosto de amarelo. Esse ano novo passarei com um vestidinho amarelo.

segunda-feira, 6 de setembro de 2010

Tem que saber que eu quero correr o mundo...


Praca de La Bamba, Barcelona - Espanha (o computador nao tem acento). Foto: Felipe Castillo.

Tenho a impressao que faz mais tempo que estou de passagem. Tenho conhecido muita gente, muitos lugares, vidas completamente diferentes da minha. Vienna e um lugar lindo, cheio de contrucoes antigas, ruas cheias de flores e gente charmosa andando de patinete. Passo uns apuros pra me comunicar, a galera aqui fala alemao, desenrolo na mimica! Sexta passada fui pra Barcelona, sempre tive vontade de conhecer a Espanha (de onde sou descendente), rolou identificacao imediata. A lingua, o astral do lugar, a musica... parece que eu ja havia estado ali, me senti em casa... Respirava fundo, nao queria dormir e nem piscar, pra nao perder nada. Conheci museus, castelos, e uma caneca de um litro de cerveja. Depois de duas dessa ai, voltei pela Praca de La Ramba rindo a toa, pensando que se eu pudesse escolher onde estar naquele momento seria exatamente ali, naquele lugar/companhia/temperatura, tudo!
Fim de semana que vem vou pra Budapeste, na Hungria. A mochila... unico peso que carrego... fe em Deus e pe na estrada!

domingo, 29 de agosto de 2010

E não é que é mesmo um moinho?


Foto: Luciano Vicioni. Cansada, descabelada e muito, muito feliz. Essa foto me dá uma vontade de rir!

Como será o amanhã?
Responda quem puder
O que irá me acontecer?
O meu destino, será como Deus quiser.

("O amanhã", composição de Jorge Sérgio)

Enquanto escrevo observo a mala no meio da sala. Repenso mil vezes se não esqueci nada. Já quis esquecer muita coisa, mas não agora. Passei o dia sozinha, tenho andado bastante assim, nunca foi tão confortável.
Fiz um almoço gostoso, salada de grão de bico. Era o que eu estava a fim de comer. Combinei de encontrar uns amigos, mas antes resolvi sentar no quintal, ver o pôr do sol e tomar um café sem pressa, na companhia do Tom Zé, aquele tropicalista canino que divide o teto e as estrelas comigo. Porque era o que eu estava a fim de fazer. E tem sido assim, desfruto da mais doce liberdade.
Quando era mais nova adorava acampar, nunca voltava pra casa na data combinada. E liberdade era isso. Hoje liberdade é trabalhar com o que gosto; Poder decidir onde e com quem quero estar; Falar com meus pais e saber que são meus melhores amigos, nada cobram e não têm o que cobrar, apenas recebem com amor o que digo, fizeram bem a parte deles; e também, me deliciar na certeza de que conto comigo. Que nunca vou me colocar numa situação em que eu não esteja feliz, e muito menos deixar que me coloquem.
Amanhã estarei olhando para tudo isso a muitos pés de altura. Ansiedade se mistura à humildade. Humildade por saber que não controlo tudo e que por isso confio nos caminhos que se abrem. Ainda que em determinados momentos se mostrem sinuosos demais.
Se há três meses alguém dissesse como seria este meu domingo, jamais acreditaria. O que era incerto tornou-se certo. E a recíproca é verdadeira. O que era certo, referência, distanciou-se do que quero pra mim muito mais dos que os pés que estarei do chão amanhã.
Inversão que me tomou noites de sono... Até que o tempo passou a dar bons motivos pra tudo acontecer. Meu mundo, que já era grande, foi ficando ainda maior. E a força braçal para entender mudanças suaviza-se quando me dou conta que devo simplesmente fazer a minha. Não perder de vista o que acredito (essência, nego) e de resto, exercitar flexibilidade e fé. Fé em Deus, na vida, nas pessoas, no amor. E no destino.
A vida não está numa planilha do Excel, e, realmente, nada que se passa hoje era planejado. Logo mais essa mala enorme que atrapalha o caminho no chão da sala será coadjuvante de momentos especiais na Áustria e eu juro que quero muito, muito mesmo, saber o que vem depois.
Em meio a roupas, uma nècessaire gigante, documentos, livros, está um charmoso caderno de capa florida pintada à mão, que ganhei de presente. Nele vou escrever sensações que no futuro serão deliciosas lembranças, elas me farão companhia se acaso o moinho girar novamente. E gira... E aquele abraço pra quem fica!

quarta-feira, 28 de julho de 2010

Ecos, espelhos e outras papagaiadas


- Jaca! - Jacagay!!
Certa noite perdida na minha vasta lista de noites memoráveis fui ver o pai de uma amiga tocar com sua banda de jazz. Sonzeira. O cara, que ostenta o insosso cargo de “representante comercial”, nas horas vagas arrebenta no contra-baixo. Por pura sacanagem da molecada da minha rua, o apelido desse grande artista é Cotonete. Seu Cotô, figura lendária, tem a cabeça bem branquinha, como algodão.
Conforme as luzes do palco mudavam de cor, a cabeça do Cotô mudava junto. Verde, azul, vermelho, era lindo. Quando, numa onda meio flash dance, o globo de luz girou em várias cores, seus cabelos assumiram uma apoteótica dança de bolas multicoloridas. Pronto, não prestei mais atenção na música e algo me trazia a nostalgia de antigos e bregas abajures que tinham umas coisas que imitavam chafarizes e iam mudando de cor.
Algumas pessoas são como a cabeça do Cotô. Assumem a cor do que as ilumina no momento. E vão além, adquirem nova sombra, nova áura, porque não possuem nada disso, apenas emprestam daquilo que se põem diante delas. E depois partem para o próximo e previsível passo, o de propagar feito ecos discursos alheios, ancoradas naquilo que também não possuem, história.
Como pedras de gelo, sem cor, sem sabor, sem calor, assumem a forma do ambiente onde são colocadas. Assumem gosto e estado físico. Gelos feitos com água de torneira... vão bem com vodka vagabunda e Jurupinga em bares de esquina, onde são despejados depois do último gole, talvez no próximo copo, menores do que já são, antes que a lucidez se aproxime e nos faça ver a luz do sonho se apagar com a luz do dia.
Difícil saber diante de quem estamos, porque nesses casos fala-se com rastros de outras coisas, do diabo apenas o rabo. Vê-se à beira de um abismo profundo e vazio perguntando: Tem alguém aí? (aí, aí, aí...), e o que volta é sua própria voz, seu jeito, o melhor e o pior de você.
O Seu Cotô passou Grecin 2000 no cabelo e saiu pela rua tal qual um Assum Preto, mas aí perdeu a graça, tem coisas que precisam se mostrar como são, quando são sinceras até causam um fundinho de admiração.

segunda-feira, 19 de julho de 2010

sexta-feira, 9 de julho de 2010

MariNONA

E como no último post falei sobre o poema que ganhei, agora o coloco na banca.
Escritos são o melhor presente que eu poderia receber. E também o melhor que tenho pra dar.
Sou muito adepta das cartas, emoção-retrô... As letras de alguém, imaginar que suas mãos se arrastaram por aquele papel, o pensamento dedicado ao destinatário, a trilha musical da inspiração...

Mas isso fica pra outra vez porque o poema chegou por email.

E dizia mais ou menos assim:

"Sua inspiração é um bafo? A minha é você. Mari, escrevi um poema pra você. Te amo. Joana".

Aos Dois de Julho de Dois Mil e Dez

À Marina, que rima com bailarina,
Mas como nunca vi essa cena...

Da amiga bobona
Que sonha em ser Miss’Joana*...

*lee-se mijona

NONA

À primeira vista, Nona assusta o turista.
Olha por cima, de seu andar privilegiado,
Àquele que se aproxima com ganas de tarado.

Mesmo desdenhado, por um olhar apertado
Não há andarilho, caminhante ou passante
Que não se atente pra seu lado.

Nona chama a atenção!
Pernas longas e grossas, de índia escaldada,
Altiva como um português do sertão.

Quem nunca a viu passar sorrindo para fora
Não sabe o que esperar do coração dessa senhora

À segunda vista, se faz Ninha e o revés ao viajante
Coloca-se a envolver e disparar energia
Ao novo amigo e quem sabe futuro amante

Então já não se pode fugir dos abraços dedicados
Por povoados, cidades e países se espalham
Àqueles que ficam saudosos de seus cuidados

Mais bela ainda se revela quando se abre!
Flutua no ar sua pureza Guarani
Por dentro da casca de avaxi hi'y pe*

Só quem já sentiu a pureza de seu olhar naturista
Conhece o privilégio de se descobrir no coração dessa senhorita


* (Do idioma Guarani - Espécie de milho de espiga comprida. Fonte: Léxico Guarani, Dialeto MBYÁ, de Robert A. Dooley.)

segunda-feira, 5 de julho de 2010

Vão- se os anéis, ficam os medos



Não gosto muito de contar coisas cotidianas aqui no Janelas. Gosto de contar como os fatos repercutem em mim, mas hoje vai ser diferente. Senta que lá vem estória.

Na última sexta (03/07) cheguei ao trabalho com o riso frouxo, estava tão contente e leve, que neguinho ficou achando que tinha usado entorpecentes logo cedo. É que a noite foi muito especial na quinta, me deixou em estado de graça nas horas que seguiram. Abri o email e li um poema lindo feito pra mim, da minha amiga Joana. Terminei de ler com os zóinho marejado.

O Brasil perdeu o jogo e saiu da Copa, fiquei emocionada, mas não sofri, isso é privilégio do Timão. Almocei espetinho e cerveja no Bar da Rosa com a galera do jornal, rimos muito. Estava num bom dia. Fato.

Fim de tarde. Voltei pra casa escutando Ben Harper, o som do meu despertador. “She´s only happy in the Sun”. Encontrei remanescentes do churrasco que perdi. Vários amigos no quintal, papeando entre os varais, coisa linda. Alguns abraços mais tarde, resolvi dar um bodinho.

Mas um sonho estranho começou antes que eu adormecesse. A galera foi embora. Na sala estavam minha mãe, meu irmão Pablo e a namorada dele. Começou uma gritaria. Fiquei em pé, branca, na porta do quarto tentando distinguir o que tava acontecendo. Ouvia meu irmão “Calma mano, pra quê isso, o que você quer?”, e coisas sendo arrastadas, chutes na porta. Fui até a beira da escada e minha cunhada falou baixinho “Má, estão assaltando a gente”. Voltei pro quarto e liguei pra polícia. Lá em baixo, na sala, apavoravam minha família e faziam ameaças. Fiquei com medo de a polícia chegar e os caras, em choque, causarem ainda mais.

Ouvi o cara mandando meu irmão ir com ele. Minha mãe tentando impedir. No fim das contas foi todo mundo. Fiquei agachada ao lado da cama em silêncio tentando ouvir qualquer coisa que sinalizasse o que acontecia, e principalmente, se estava sozinha em casa. Minha mão tremia tanto que eu não conseguia segurar o celular. Um pneu cantou na frente de casa, um estrondo no portão, e alguém começou a subir a escada no escuro, com uma lanterna na mão.

Entrei debaixo da cama. De lá, via os pés de um homem andar com respiração ofegante de um lado pro outro enquanto apontava a lanterna. Entrou no meu quarto. Rezei pra Deus e o diabo. Imaginava como seria quando me achasse. Pensava: no mínimo ele ficou aqui enquanto os outros levaram minha família ao banco, a polícia deve ter chegado e o doidão deve estar sangue nos olhos. Em questão de segundos, o medo de ser encontrada por alguém tomado de má fé, me fez pensar as mais variadas atrocidades. Nenhum Tarantino chegaria aos pés da minha imaginação.

Um filme se passou na minha cabeça. Em câmera lenta me vi rindo de manhã no trabalho; lembrei do poema; do sorriso de alguns amigos; da minha noite anterior; pensei nos meus pais; no pôr do sol de Boiçucanga; e também em coisas que tomaram tanto minha energia nos últimos tempos e que agora me pareciam tão pequenas; pensei em como demonstro amar as pessoas; como faço valer a pena “ser”... Tudo isso num suspiro, um piscar de olhos.

Acenderam a luz, tentei espiar e dei de cara com ele, que sacou a arma da cintura e apontou na minha direção gritando “Para, porra!”, medi o sujeito. Fardado. Caralho, era a polícia, nunca fiquei tão feliz em ver um policial. Ainda escondida, expliquei quem eu era. Putz, numa dessa ele atiraria, no susto.

Os policiais foram atrás da minha família, que essa hora já havia sido largada na Anchieta. Meu coração batia mais que a Mangueira na avenida, medo de alguma coisa acontecesse àqueles que pra mim são tudo... e aquele minutinho não me saía da cabeça... a visão dos pés, a luz da lanterna, a respiração, e a sensação que o fim da linha, precoce e injustamente chegava.

Tudo resolvido, os vermes levaram grana, objetos, o carro. Até aí foda-se, tomamos um prejú, mas estamos aí pra conseguirmos tudo de novo. Tudo em dobro. Falaram muita asneira, ameaçaram fazer muito mal à minha mãe e minha cunhada, em palavras que nem vale a pena reproduzir.

Penso a que ponto chega a maldade. No fim das contas fui tomada por um sentimento de compaixão, que vida desgraçada desses caras. Qual será a história deles, a partir de que momento se transformaram em dois lixos, capazes de invadir uma casa, insultar mulheres, bater em homens porque têm nas mãos uma arma... Sei lá... Convardia tem tantos aspectos... Pessoas subjugam outras sem estarem necessariamente armadas.

Mas enfim, hoje é segunda-feira e como ninguém decretou feriado, cá estou eu no trabalho. Sinal que a vida continua. Não é primeira vez que alguém testa minha fé, nem vai ser a última. Quando posso, bato no peito, quando não posso... Bom aí eu me escondo embaixo da cama!

quinta-feira, 1 de julho de 2010

Será uma jiboia?


- Ooooiiii Mazinhaaaaa!!!!
Menino do bafo horrível
Falar perto de ti é impossível
Não queira me contar os seus segredos
Quando me chama pra perto eu tenho medo

Ainda bem que ouvido não sente cheiro
Sai pra lá com essa boca de bueiro
Meu bem, acho que chupaste um pano sujo
Sai pra lá com esse bafo de caramujo

Pior é que és simpático e gracioso
Quando te vejo lembro de ti o dia todo
Mas não é porque fico feliz
É esse cheiro que não sai do meu nariz

Deus do céu, mas que catiça!
É cheetos bolinha com cocô e carniça
Pensas que sou tímida, mas estou prendendo a respiração
Estou em São Bernardo, mas me sinto em Cubatão

terça-feira, 29 de junho de 2010

Novos Motores do ABC. A hora é agora!

Olha eu ali no meio! Volkswagen. Assisti o jogo BrasilXPortugal com essa galera aí. Grandes artistas!


ABCDMRR é a sigla para a região que envolve as cidades de Santo André, São Bernardo do Campo, São Caetano do Sul, Diadema, Mauá, Ribeirão Pires e Rio Grande da Serra. Na boca e no imaginário dos brasileiros, a megalópole é simplesmente o ABC: uma sigla que remete predominantemente a indústria automobilística e ao conseqüente movimento sindical que eclodiu na região no final dos anos 70.
Esta conjuntura forjou uma massa de trabalhadores politizados, que deram a região um contorno perene de ativismo, engajamento e contracultura. Talvez o exemplo máximo do poder ideológico da região, seja o governo Lula (não vamos nos ater aqui aos prós e contras destes mandatos. O que nos interessa é o fato histórico: um metalúrgico que chega ao mais alto posto do Estado brasileiro).
Como não poderia deixar de ser, os movimentos artísticos sempre estiveram presentes neste caldeirão sócio-cultural. A proximidade com a capital paulista (canal fundamental de informação) e a efervescência ideológica, moldaram manifestações artísticas peculiares, que naturalmente fugiram das adequações impostas pela indústria cultural.
Agora é a hora do ABC se solidificar justamente nesta outra indústria: a cultural. Não submetendo-se ao modus operandi desta máquina massificadora, que preza pelo pasteurizado, pelo efêmero... Mas sim o contrário. Devemos organizar nossa rede cultural e estabelecer um novo sistema, de modo que seja inevitável para a indústria cultural se submeter às nossas condições.
Meios de comunicação, empresários, formadores de opinião etc, têm responsabilidades na construção e manutenção deste cenário. Não vamos esperar o reconhecimento externo para valorizar aquilo que acontece ao nosso lado.
Temos que prestigiar, valorizar, movimentar e fazer com a arte do ABC tenha suportes e espaços para circular com dignidade. Aqui e agora!


Esse texto é do parceiraço Luiz Eduardo Galvão, vulgo Ticha. Foi publicado nesta terça no ABCD MAIOR. Esse é o NOSSO movimento. Avante!

terça-feira, 15 de junho de 2010

Sonhos não envelhecem

“E basta contar compasso
E basta contar consigo
Que a chama não tem pavio
De tudo se faz canção E o coração na curva de um rio rio rio rio...”

(Clube da esquina nº 2)

Noite passada eu estava num barco percorrendo um rio revolto, tipo Pororoca, com ondas, barrento. E não estava sozinha, estava com minha mãe e algumas amigas próximas. De repente o barco entrou em trilhos e danou a fazer curvas vertiginosas na maior velocidade e eu me segurava nas madeiras que iam se soltando, com o coração na boca.
Mas essa noite... ah foi muito mais tranquila, estava acampada nas margens de um rio (dessa vez calmo e claro), debaixo de um céu de estrelas, alguém tocava um violão. Estava vestida com uma blusa xadrez verde que adoraria ter e comemorava o ano novo. Com direito a fogos champagne.
Acordei com uma sensação boa, renovação, começo. Eu sei, o ano nem é tão novo assim, já está pela metade. Mas porque não começar agora, e quem é que disse que a gente tem que bater continência para os xis que povoam o calendário? E quem é que falou que isso é um ano? Quem deu esse nome? Nesse mesmo espaço já discorri certa vez sobre o “tempo do coração”, pois bem, o meu diz que nem a mais poderosa mandingueira seria capaz do “abre caminho” que meus sonhos me ofereceram esta noite e também quando acordei.
Missão cumprida, coração tranqüilo, aquele abraço pra quem fica. Dificilmente senti-me assim em qualquer data que impusesse tal sentimento. E naquelas listas enormes que a gente se enche de incumbências, “fazer curso de inglês, beber menos, entrar na academia... etc e tal”, na lista do meu (re)novo ano/tempo, sugiro-me com carinho apenas dois itens: Ficar em paz. E ser feliz.

sexta-feira, 11 de junho de 2010

segunda-feira, 7 de junho de 2010

Costas Quentes

Foto de Rafael Morpanini (nov/2008) com a super montagem de Joana Horta

Joaninha diz:
e ai lindona!
voltou ontem que horas?
Marina diz:
oi minha lindeza, voltei de tardezinha, umas 15h, aí fui pra casa da namorada do meu pai, fiquei lá com ele até à noite e vim pra casa, friorenta. e vc?

Joaninha diz:
voltamos a noite
te procurei na praia
num te achei
meu ma
to muuuuuuito
orgulhosa de vocÊ
da hora cara
não sei se eu saberia ter essa postura
você é muito linda mesmo!!!!!!

Marina diz:
Ah Jojozinha, tenho meus momentos, não se iluda hahaha

Ontem mesmo eu fiquei tristinha, com saudade... com vontade de ficar sozinha... mas normal né? O que me faz seguir em frente é que eu tenho as costas quentes Jô...

Pra quem tem amigos como os que eu tenho, tão amorosos, o mínimo que eu faço pra retribuir é ser feliz, rs

Joaninha diz:
ahhh
mas não to falando de vc estar feliz
estampando um sorriso no rosto pra esconder a lágrima
to falando da sua aura
da sua capacidade de passar uma boa energia
Foda mesmo Ma. Foda.
Vc acha que todo mundo é capaz de gerir essa energia que vc emana?

Marina diz:
Ô Jô... que bom Jô... é a melhor coisa que eu poderia saber, rs
Fiquei muito feliz no sábado. Foi ótimo, o papo, a breja, o vinho, o queijinho, tudo, que coisa boa

Joaninha diz:
nossa ma
fiquei com o maxilar doendo
foi mágico!

Marina diz:
o momento ali nos permitiu... rs

Joaninha diz:
foi
kkk
liga pro Tarso
vamo povoar o campo de golfe dele com nossa comunidade alternativa!

Marina diz:
huahauahahahahahah

quarta-feira, 2 de junho de 2010

O díspare espelho cristalino e os reflexos das consequências de nós dois


Durmo com fome e acordo com sede; Boca com boca. Pêlo com pêlo...

Junto com minhas calças vão-se parte das convicções. Ficaram largas demais pra mim; Abraço e sinto forte pulsar do coração que ora, acreditava....

Vai-te desfazendo dos diamantes que ornei tua imagem em qualquer Diamantina.
Perde-se em luminosos sem luz. Desafia meu poder de dedução, subestima o tamanho do que me dói; Minha mão escorria por uma perna ocupando-se de um transe com gosto de Marlboro...

Retorna-me ao passado, onde parei, onde me perdi. Onde me acostumei ao riso e quando descobri que a cumplicidade é casual; Beijo um peito nu...

Psicografo palavras que saem da caneta hemorrágicas numa madrugada fria qualquer.Nenhum frio é maior; Arranco um cinto, me puxo algo, fico por cima , altiva...beijo com a violência de um Peckinpah em ação...

Agora o cigarro enjoa. Incalculável o engano, a perda e o que há de bom; Acaricio, beijo seu pescoço de penugem arrepiada, afundo as pontas dos dedos na pele das costas, possuo. Um suspiro. Reconforto. Entrega-se...

Toca qualquer coisa no rádio, não toca CD. Muitas coisas estão quebradas. Crimes perfeitos não deixam suspeitos... Um dia desses num desses encontros casuais...
Prefiro o Marvin Gaye que trouxe embaixo do braço. Mas já não posso escolher sempre; Paixão insana, prazer e dor. Vou ao céu e ao inferno. Vejo estrelas num deserto de areia branca.


Não, não vale a pena ter raiva. De tudo o que foi dito nada faz tanto sentido. E o que me espera é a estrada sob a lua que mais parece um cálice que me embriaga; Beijo todo um corpo nu mas agora é ternura.

E a vida, claro, a vida me espera de braços abertos. Amantes; Meu chá verde de lichia pela metade na geladeira...

Sim você me ama; Antes de pensar em morte lenta, mais lentamente ainda você adoraria saber o gosto da minha boca...

Tiro o chapéu, você (me) acertou meu bem. Ganhou um engradado e minhas grades.

Mas não o que me faz grande...

segunda-feira, 31 de maio de 2010

Vida



Fale por nós, Chico! Porque hoje eu não consigo falar por mim.
...



Vida, minha vida Olha o que é que eu fiz

Deixei a fatia mais doce da vida

Na mesa dos homens de vida vazia

Mas, vida, ali, quem sabe, eu fui feliz


Vida, minha vida Olha o que é que eu fiz

Verti minha vida nos cantos,

na pia Na casa dos homens de vida vadia

Mas, vida, ali, quem sabe, eu fui feliz


Luz, quero luz Sei que além das cortinas são palcos azuis

E infinitas cortinas com palcos atrás

Arranca, vida Estufa, veia E pulsa, pulsa, pulsa, Pulsa, pulsa mais

Mais, quero mais Nem que todos os barcos recolham ao cais

Que os faróis da costeira me lancem sinais

Arranca, vida Estufa, vela Me leva, leva longe, Longe, leva mais


Vida, minha vida Olha o que é que eu fiz

Toquei na ferida, nos nervos, nos fios Nos olhos dos homens de olhos sombrios

Mas, vida, ali, eu sei que fui feliz


Luz, quero luz Sei que além das cortinas são palcos azuis

E infinitas cortinas com palcos atrás

Arranca, vida Estufa, veia E pulsa, pulsa, pulsa, Pulsa, pulsa mais

Mais, quero mais Nem que todos os barcos recolham ao cais

Que os faróis da costeira me lancem sinais

Arranca, vida Estufa, vela Me leva, leva longe, Longe, leva mais


Vida, minha vida Olha o que é que eu fiz...

quinta-feira, 27 de maio de 2010

A coragem do amor que dura


Hoje, depois de tomar um café preto e espantar o risco eminente de uma ressaquinha se aproximar, abri o jornal. Folha. Ilustrada. Fui direto na coluna de um cara que admiro muito, o Contardo Calligaris e me deparei com o texto que reproduzo abaixo. Corajoso, verdadeiro e sensível. Veio de encontro aos últimos pensamentos que me fazem perder o olhar pela janela.

Ah, e a quem possa interessar, eu fiz um twitter: @janelasdemarina. Ainda não sei bem como mexer nessa budega, mas não deixa de ser mais um canal. Haja o que dizer hein!


A coragem do amor que dura


"Prolongando observações da semana passada sobre "Quincas Berro d'Água", vários leitores e leitoras observaram que a literatura e o cinema, em geral, glorificam a coragem de quem, um belo dia, chuta o balde e vai embora.E como ficam os que passam a vida inteira deslocando o balde para estancar as goteiras? Será que eles são todos covardes e acomodados?É inegável: nossa cultura idealiza a ruptura, a aventura, a saída para o mar aberto. Em matéria amorosa, o momento que preferimos contar é a hora do apaixonamento.Depois disso, gostamos de imaginar que "eles viveram felizes para sempre", mas sem entrar em detalhes que poderiam transformar a história numa farsa.Uma boa solução, aliás, é que os amantes morram logo. O sumiço (de ambos ou de um dos dois) evita que a comédia da vida que levariam juntos contamine a apoteose do encontro inicial. Os amantes ideais são os que não duraram no tempo: Romeu e Julieta, o jovem Werther e Charlotte, Tristão e Isolda.Concluir o quê? Que a coragem é sempre a de quem deixa a mornidão de seu conforto para se queimar num instante de paixão? Será que não pode haver coragem nos esforços para que o amor dure?É óbvio que a duração não é um valor em si: uma relação pode durar a vida inteira e ser uma longa e insulsa experiência repetitiva, sem amor algum. Mas, inversamente, será que as paixões-relâmpago são amores? Enfim, seria útil dispor de uma definição do amor.Justamente, li nestes dias um livro que me tocou, "Éloge de l'Amour" (elogio do amor, Flammarion 2009, ainda não traduzido para o português), de Alain Badiou; é a transcrição de uma breve entrevista do filósofo francês.Nela, inevitavelmente, Badiou constata que, em nossa cultura, a visão dominante do amor é a de uma espécie de "heroísmo da fusão" dos amantes, que, uma vez consumidos por sua paixão, podem sair de cena (para não se tornar ridículos) ou sair do mundo e morrer (para se tornar sublimes).Contra essa visão, Badiou define o amor mais como um percurso do que como um acontecimento: segundo ele, o amor precisa durar um tempo porque é "uma construção".Confesso que fiquei com medo de que o filósofo nos propusesse amores tagarelas, em que os amantes não parariam de discutir a relação (claro, para construí-la). Por sorte, não se trata disso. Então, o que constroem os amantes?Geralmente, explica Badiou, minha experiência do mundo é organizada por minha vontade de sobreviver e por meu interesse particular: vejo o mundo só de minha janela.Certo, ao redor de mim, há muitos outros de quem gosto e aos quais reconheço o direito de também sobreviver e promover seus interesses.Mas o fato de eu respeitar esses meus semelhantes não muda em nada meu ângulo de visão. É só quando amo que consigo olhar, ao mesmo tempo, por duas janelas que não se confundem, a minha e a de meu amado. A estranha experiência ótica faz com que os amantes reconstruam o mundo, enxergando coisas que ficam escondidas para quem só sabe olhar por uma janela.Entende-se que o amor assim definido exija tempo. Quanto tempo? Um mês, um ano, uma vida, tanto faz. Consumir-se na paixão pode ser rápido, mas reinventar o mundo a dois é uma tarefa de fôlego.O amor segundo Badiou, em suma, é uma aventura, mas que precisa ser obstinada: "Abandonar a empreitada ao primeiro obstáculo, à primeira divergência séria ou aos primeiros problemas é uma desfiguração do amor. Um amor verdadeiro é o que triunfa duravelmente, às vezes duramente, dos obstáculos que o espaço, o mundo e o tempo lhe propõem".Você aprecia a definição, mas a acha um pouco abstrata? Gostaria da história de um amor que dura e se obstina sem se tornar pesadelo ou farsa? Pois bem, acabo de ler um texto comovedor, bonito e capaz de ilustrar e explicar perfeitamente as palavras de Badiou.Em "Amar o Que É: Um Casamento Transformado" (Objetiva), Alix Kates Shulman conta como ela e Scott, o marido, reinventaram o mundo, a dois, obstinadamente, depois de um acidente que precipitou Scott numa forma de demência.Há momentos difíceis, sacrifícios e durezas, mas, curiosamente, o relato não chega nunca a ser triste porque se trata de uma extraordinária história de amor.”

quinta-feira, 20 de maio de 2010

Bigorna nossa de cada dia


“Ele faria da queda um passo de dança,
do medo uma escada
do sono uma ponte,
da procura, um encontro”

Se tem um livro que me marcou demais foi “O Encontro Marcado”, do Fernando Sabino. Foi uma dessas delícias de obra que a gente fica com pena de terminar de ler e tem saudade das personagens.
Quando li passava uma temporada num lugar que significa muito pra mim, a Praia do Sono (saudade louca... Do lugar? Do que eu era... enfim). Depois da última página fechei o livro, fiquei em silêncio um tempão. Olhei o pôr do sol e tive uma emocionada crise de choro. Tinha a impressão que falava sobre mim, sobre as possibilidades que a vida oferece, as mudanças, sobre coisas que em determinados momentos nos valem ouro e que depois não queremos nem de graça (e vice-versa), sobre o valor das amizades e também da nossa inevitável falta de controle diante de alguns acontecimentos.
É a estória de um cara em desesperada procura de si mesmo e da verdadeira razão de sua vida. Quase absorvido por uma brilhante boêmia intelectual, seu drama interior evolui subterraneamente, expondo os equívocos que frustravam sua existência e sufocavam suas vocações. É uma estória linda que trata de prazeres fugidios, desespero, cinismo, desencanto, melancolia e tédio, que se acumulam no espírito de um jovem escritor que amadurece num mundo desorientado.
Gostaria muito de reler esse livro, presente de uma criatura que amo com tudo que posso (pois só assim sei amar), mas depois de cumprir sua missão de me fazer experimentar sensações incríveis, o pobre livro acabou desfolhado numa poça de água da chuva, dentro da minha barraca.
Num momento da estória, a personagem principal - o escritor Eduardo Marciano - acumula uma série de cagadas pela vida e vai conversar com um padre, pedindo uma solução para aliviar-se da culpa que sentia. E o padre dizia algo como “meu filho, se houvesse um remédio pra culpa todo mundo ia querer.” E sendo assim Eduardo seguiu pela vida levando o peso da culpa por coisas que ficaram no passado e que não poderiam ser mudadas.
Assumir-se culpado é como renunciar à reflexão e à evolução. É como se tudo se resolvesse num rótulo: “culpado” e acabou a conversa. Melhor que isso só com “desculpa”, aquela palavrinha mágica que desfaz a culpa.
Recurso muito usado por irresponsáveis é assumir simplesmente que tem culpa. E não se coloca no lugar do outro, não aprende, se arrepende, não muda, não cresce. Quem culpa os outros também sofre a mesma anestesia. A batata quente vai para a mão seguinte e pronto. Evita-se assim o desgaste de pensar nos próprios limites, no que planta e no que atrai pra si dia após dia.
Culpa é invenção da igreja católica, auto-punição pra quem não se sente capaz ou não tem vontade de mudar sua realidade e precisa aplicar o peso de suas atitudes em qualquer coisa que não seja seu coração.
Mas assim como na vida de Eduardo, o Grande Encontro acontece, cada um com sua verdade. Hoje escrevi verdades em um jornal que amanhã vai virar forro de gaiola, e aí eu vou escrever outra. Porque acho possível que ela mude. Ainda bem. Senão quem estaria presa em gaiolas junto com minhas verdades seria eu.

segunda-feira, 17 de maio de 2010

Na batida da segundona




E numa tarde fria de segunda-feira... Esse som caiu-me muito bem.
Queria tanto, neste momento, ter escrito essa letra que penso em processar o Zeca Baleiro por plágio.
É a minha pedida.

Piercing


"Quando o homem inventou a roda, logo Deus inventou o freio, um dia, um feio inventou a moda,e toda roda amou o feio"
Tire o seu piercing do caminho que eu quero passar, quero passar com a minha dor

Pra elevar minhas idéias não preciso de incenso
Eu existo porque penso tenso por isso existo
São sete as chagas de cristo São muitos os meus pecados
Satanás condecorado na tv tem um programa
Nunca mais a velha chama
Nunca mais o céu do lado Disneylândia eldorado
Vamos nós dançar na lama Bye bye adeus Gene Kelly
Como santo me revele como sinto como passo
Carne viva atrás da pele aqui vive-se à míngua
Não tenho papas na língua Não trago padres na alma
Minha pátria é minha íngua Me conheço como a palma da platéia calorosa
Eu vi o calo na rosa eu vi a ferida aberta
Eu tenho a palavra certa pra doutor não reclamar
Mas a minha mente boquiaberta
Precisa mesmo deserta Aprender aprender a soletrar

Tire o seu piercing do caminho Que eu quero passar
Quero passar com a minha dor

Não me diga que me ama
Não me queira não me afague
Sentimento pegue e pague
emoção compre em tablete
Mastigue como chiclete
jogue fora na sarjeta
Compre um lote do futuro
cheque para trinta dias
Nosso plano de seguro cobre a sua carência
Eu perdi o paraíso mas ganhei inteligência
Demência, felicidade, propriedade privada
Não se prive não se prove
Dont't tell me peace and love
Tome logo um engov pra curar sua ressaca
Da modernidade essa armadilha
Matilha de cães raivosos e assustados
O presente não devolve o troco do passado
Sofrimento não é amargura
Tristeza não é pecado
Lugar de ser feliz não é supermercado

Tire o seu piercing do caminho Que eu quero passar
Quero passar com a minha dor

O inferno é escuro não tem água encanada
Não tem porta não tem muro Não tem porteiro na entrada
E o céu será divino confortável condomínio
Com anjos cantando hosanas nas alturas nas alturas
Onde tudo é nobre e tudo tem nome
Onde os cães só latem Pra enxotar a fome
Todo mundo quer
Quer subir na vida
Se subir ladeira espere a descida
Se na hora "h"o elevador parar
No vigésimo quinto andar der aquele enguiço
Sempre vai haver uma escada de serviço

Tire o seu piercing do caminho Que eu quero passar
Quero passar com a minha dor
Todo mundo sabe tudo todo mundo fala
Mas a língua do mudo ninguém quer estudá-la
Quem não quer suar camisa não carrega mala
Revólver que ninguém usa não dispara bala
Casa grande faz fuxico quem leva fama é a senzala
Pra chegar na minha cama tem que passar pela sala
Quem não sabe dá bandeira quem sabe que sabia cala
Liga aí porta-bandeira não é mestre-sala

E não se fala mais nisso
Mas nisso não se fala
E não se fala mais nisso
Mas nisso não se fala

sábado, 15 de maio de 2010

A Virada

Hoje começa a Virada Cultural de São Paulo, tem muita coisa que tô afim de ver: Os caras do Buena Vista, Orquestra Imperial, Dicró, Cantoria, Otis Trio... Não sei onde vou conseguir estar porque fico afobada querendo aproveitar tudo. Se não me policio acabo não curtindo nada, porque estou num lugar já pensando na sequencia e assim sucessivamente.
Acho que todo mundo é assim, é natural do ser humano, quando tem muita oferta fica em choque. Em algumas situações, momentos da vida, nos vemos mesmo diante de muitas opções e é complicado eleger, abrir mão de outras coisas. Eu mesma às vezes quero tudo, e quem não quer? A Virada Cultural acaba amanhã, às 18h00, e muita gente vai continuar não sabendo o que escolher viver para ficar feliz. E vai estar num lugar pensando em outro, sempre com a sensação de estar perdendo alguma coisa. Imaginando shows em palcos apoteóticos, fantasiando perfeições, enquanto na verdade esteve ou está diante de reais e infinitas alegorias.
A última vez que estive na Virada foi quase um exercício meditativo. Bastava fechar os olhos para me transpor a outros lugares: Banheiro de rodoviária; no centro de uma roda de bêbados soltando bafo sem parar; rolando em bitucas de cigarro; ou criança, no dia que meu tio Gorditho soltou um pum sentado em mim... As pessoas maltratam muito os espaços públicos por terem a ilusória concepção de que "é de graça". Não meu camagada, não é de graça. Pagamos impostos, e não só isso, todo mundo responde pelas ruas, praças, é nosso. E existem maneiras inteligentes e higiênicas de manifetar indignação com o sistema.
E se fosse de graça mesmo, justificaria o esculacho? A gente esquece o que faz para conquistarmos as coisas, ficamos com essa impressão equivocada de que o que nos cerca está ali por estar, chegou do nada.
E para hoje, foco. Olhos, ouvidos e coração estarão atentos quando os fofos cubanos Barbarito Torres e Ignácio Mazacote oferecerem um momento de puro encanto, que não deve acabar junto ao show.

quinta-feira, 13 de maio de 2010

Otis Trio


O trio, que às vezes é quarteto: Luiz Galvão na guitarra, André Calixto no sax, Flávio Lazzarin na batera e João Ciriaco no contrabaixo. Foto: Luciano Vicioni.

Sempre achei privilégio ter no meu círculo de amigos tanta gente produtiva, curiosa, criativa. Amigos ligados à música, poesia, moda, literatura, putaria, e outras coisas interessantes. Pois bem, ontem visitei alguns desses camaradas. A serviço. Eu, repórter, eles, a banda de jazz contemporâneo Otis Trio. No começo da semana a Folha de São Paulo fez uma materia dando um super destaque pro grupo. Orgulho. Dor de cotovelo. Também quero fazer uma materia com eles, obstinei-me.
Não sou musicista, crítica musical ou coisa que o valha. Não estava lá pra analisar o som deles. Uma pena, porque se tivesse bala na agulha para faze-lo, adoraria. É uma matéria que busca valorizar a região do ABC, celeiro de grandes artistas, contando um pouco do trabalho bem feito do Otis - Porque essa é a cara do jornal que eu trampo - Deixando clara minha admiração e respeito pelo som dos caras. Porque essa é a minha cara.

Pro jornal sempre rolam uns cortes no tamanho, adequações. Aqui vai na íntegra:


Trio de jazz contemporâneo de Santo André ganha espaço na cena paulistana

O Otis Trio vai se apresentar na Virada Cultural neste fim de semana

Por: Marina Bastos
marina@abcdmaior.com.br


Quem passa em frente à casa em reforma, numa rua tranquila de Santo André, repleta de material de construção na fachada, não imagina que em seu interior, a união de jovens talentos forma o Otis Trio, grupo de jazz contemporâneo que vem ganhando espaço na seletiva cena paulistana.

Mas basta se aproximar um pouco do portão para ouvir os acordes do elegante contrabaixo de João Ciriaco. Ao lado dele estão o guitarrista Luiz Galvão, o baterista Flávio Lazzarin e o ilustre agregado, o saxofonista André Calixto. Em ocasiões especiais e sempre que possível, o trompetista Daniel Gralha e o vibrafonista Beto Montag juntam-se a eles.

No ensaio, lapidam composições autorais que vêm conquistando crítica e público, ao passo que vivem intenso processo de criação. O grupo aposta no estilo que ficou consagrado nas vozes e notas de B.B. king, Chet Baker, Miles Davis, John Coltrane e Ella Fitzgerald, ou mesmo Louis Armstrong. E acrescentaram a isso a ousadia e frescor.

O jazz do Otis equilibra o tradicional e o contemporâneo. A interessante fusão de gêneros clássicos como free jazz, hard bop e trip hop, com o que há de mais atual na música instrumental, agrada os aficionados pelo estilo e também quem não está apto a reconhecer elementos e influências em sua música. É original, bem feito e lisonjeia os ouvidos.

Formado em Santo André no início de 2007, o Otis Trio surgiu informalmente, como conta Luiz Galvão. “O João Ciriaco trabalhava improvisação livre, eu já vinha de experiências com vertentes jazzística e instrumental contemporânea e o Flávio também tinha interesse. Começamos estudar temas juntos e nos improvisos começou despontar a identidade do grupo.”

Eles acreditam que no ABCD existam pessoas interessadas no requinte do jazz autoral, (apesar do trabalho do Otis não ostentar glamour e procurar ser agregador e acessível) tanto é que muitas vezes encontram conterrâneos nos shows em São Paulo, mas foi na capital que encontraram seu público. “Esse estilo requer uma certa regularidade e aqui na Região é difícil encontrar casas que investem no tema, numa programação frequente. Precisamos de tempo para apresentar nosso trabalho e cativar o público, e em São Paulo pudemos contar com essa cultura”, explica Flávio Lazzarin.

Luiz Galvão destaca que o jazz é um investimento a longo prazo para as casas. “Não é um tipo de música que acontece e faz sucesso de uma hora pra outra, as pessoas precisam conhecer, começar a apreciar, valorizar o trabalho de uma banda instrumental, é quase um treino, um processo.” André Calixto acredita que um fenômeno está acontecendo em relação ao público. “Hoje é muito comum vermos um pessoal jovem, que tem sua rotina, seu trabalho, mas à noite sai para curtir um programa até então inusitado pra gente da sua idade, o cara vai ouvir um vinil, um instrumental dos anos 1950, conheço muita gente assim aqui no ABC e o Otis é a trilha sonora desse movimento.”

Atualmente o Otis faz temporada aos sábados no Bar B, reduto de boa música e público apreciador dela e das artes em geral, na República. O grupo, que em 2009 marcou presença no Festival de Inverno de Paranapiacaba, passou também pelo Tapas Club, Studio SP e pelo Berlim, conquistou público, e vem levando o ABCD a conceituados palcos de São Paulo.

Virada Cultural 2010 de São Paulo- O Otis Trio representará muito bem a Região num dos maiores eventos culturais de São Paulo. Domingo (16/05) o grupo vai se apresentar às 14h00 no Palco Matrambowski. Avenida Ipiranga, em frente ao prédio Copan, na República, região central da cidade.
Confira o trabalho do Otis Trio em: www.myspace.com/otistrio



segunda-feira, 26 de abril de 2010

Reflexos e Reflexões


Eu. Reflito. Foto: Paulo Contessoto.
Para ler ouvindo: Free Bird, de Lynyrd Skynyrd

Acordei na madrugada, ando mesmo com sono leve, com calor. Andei pelo corredor de casa e o coração disparou quando olhei pro lado e vi um vulto. Do meu tamanho. Cheio de olheiras. Que ideia, colocar um espelho aqui, no meio do nada, pensei suspirando com a mão no peito. Espelho é pra gente ver, e não ser visto.
Ser refletido de surpresa sempre assusta, de repente de um ângulo que não agrada, que nos deixe feios, fracos, de repente um ângulo que dê vergonha. Mas o espelho tem esse poder de refletir o que somos e trancende a condição de vidro, frio, inanimado, para se tornar, muitas vezes, o interlocutor do qual mais precisamos.
Edgar Allan Poe concordava comigo. Dizia que espelhos devem ser colocados de tal forma que ninguém se veja refletido nele sem querer. Espelho tem que ficar é no banheiro. Aí dá tempo de se preparar para ser visto. Enquanto caminhamos na direção dele endireitamos a coluna, arriscamos uma boa cara (ainda que insone), e fantasiamos lá no fundo ele dizendo "Não, não há ninguém no mundo mais belo do que você".
Sempre procuramos algo que nos mostre o que temos de melhor, de mais bonito, o mito de Narciso mostra o que o descontrole nessa busca pode causar. E o cabra morreu apaixonado por sua própria imagem numa fonte. Tragédia de amor impossível.
Amamos as pessoas pelo que vemos de nós, nelas. Mas quando elas mostram algo que não temos de bom, o espelho é colocado num quarto escuro, para aprender a não refletir o que não deve. Ou é quebrado, sem a culpa dos sete anos de azar, porque buscamos, e achamos, outros espelhos que nos mostrem apenas o que queremos ver.
Muitas vezes assumimos o papel do espelho, oportunidade de bom proveito para quem deseja se re-conhecer. Mas nem sempre queremos nos enxergar, só mostrar.
E dois espelhos frente a frente perdem-se em labirintos de imagens infinitas.

segunda-feira, 29 de março de 2010

É grande, mas não é duas

Até a bananeira pode ter seu coração perturbado.
Foto: Paulo Contessoto

Habilidosa raiva, embrulha o estômago como ninguém, generosa, presenteia o impulso, primo irmão do arrependimento, irmão da culpa.
Intensa raiva, vem, mas chega com força, derrubaria uma árvore centenária, mas a mim cerra apenas os dentes, para me ensinar a sorrir enquanto me abraça com malícia pelas costas e me aperta o peito.
Vem comigo escorada feito ferido de guerra e me apressa o passo para leva-la a algum lugar, alguém que a cure, ou alimente. Ou quem sabe a assuste com uma raiva maior.
Insone raiva, perturba meu sono quando mais preciso dele, sopra em meus ouvidos palavras que queria esquecer, cenas que tento manter no passado, e quando vence, me fazendo acender a luz, me convida para um cigarro, fingindo a cumplicidade de quem também estava sem sono.
Anfetaminas, curvai-vos, nem a mais forte das doses atingiria os patamares de loucura da minha raiva. Nem seus efeitos colaterais: taquicardia, hipertensão, tremedeira, bruxismo, falta de apetite, náusea ou suadeira, nada me travaria tanto.
Psicótica raiva, me faz ver o invisível, escutar o que ninguém disse e o ranger de uma escada vazia. Desconfigura meu bom senso e minha imagem no espelho.
Vaidosa, cheia de atributos, não gosta quando a confundem. Ela não tem nada a ver com a violência ou qualquer outra bestialidade, e às vezes pode até ser positiva, pelo menos é do que tenta convencer quando se apossa de pensamentos, ações, e assina textos.
Mas sei o que a desafia e lhe ameaça a existência. O que a faz renunciar a todo sentido e a mais vaga lembrança de onde veio. Apátrida raiva, o humor te desnorteia, eu sei. Só ele, só ele pode ser maior nos momentos em que é inflada às custas de respiração acelerada.
Basta um vestígio de humor, basta sua sombra, sua sobra, sua obra, e a raiva volta para dentro de sua caixinha, desajeitada e descabida, como uma árvore de natal na sala no fim do mês de março.
Efêmera raiva, outro dia te vi indo embora cheia de vergonha numa mesa de café da manhã. Toda prosa, toda cheia de si, com poder de desviar olhares e amargar o café que já era amargo, vi quando um sorriso a lançou pelos ares em espiral, tal qual uma bexiga recém furada.
Eu sei que você volta, raiva, e não é sempre que consigo te controlar, mas o humor, primo irmão do amor, amante da alegria e pai das cores, está sempre aqui à sua espreita. Se liga...

sexta-feira, 19 de março de 2010

É da minha natureza

Tatu Bolinha. Onde foram parar esses graciosos artrópodes?

Gostava tanto das aulas de biologia que cheguei a ficar em dúvida se trabalharia com algo relacionado às ciências ou se sucumbiria à comunicação. Fiquei com a segunda opção, mas ainda guardo nesse baú infinito da minha memória, explicações incríveis sobre processos naturais que muitas vezes aplico à minha vida. Voltava pra casa depois da aula com aqueles termos esquisitos ecoando... fagocitose, pinocitose, gineceu, pedúnculo... E como é perfeito, pensava. Comecei acreditar mais em Deus durante as aulas, pois só assim seria possível a existência de movimentos tão bem orquestrados e elementos tão apropriados para cada coisa. É nisso que me apego quando questiono meu papel ou de outras pessoas em determinadas situações, longe de ser um pensamento conformista, mas lembro dos tais movimentos para acreditar que tudo tem um porquê e faz parte de um contexto maior, que nossa limitada visão de homo sapiens (bota aspas aí) não nos permite enxergar.
Enfim, uma das coisas que sempre me encantou é a diferença entre os pecilotermos e os homeotermos. Os pecilo são os sapos, lagartixas, cobras e outros bichinhos. A temperatura do corpo deles varia de acordo com o ambiente, então eles não sentem frio ou calor, porque essas sensações se dão da diferença da temperatura interna com a externa. Em compensação fervem e congelam mais rápido que nós e morrem disso, os pobres. Essa ausência de sensações deve tornar a vida um tanto monótona. Pro bem ou pro mal, não sentir é a pior possibilidade.
Já nós, o Tom Zé, os pôneis, o Chico Buarque, somos abençoados homeotermos. A nossa temperatura interna é sempre igualzinha e protegida de todas as inconstâncias. Mesmo quando gelamos ou fervemos, por dentro desfrutamos da tranqüilidade de homeotermos. Quando tudo fica confuso, amontoado, quando o tempo resolve ser impiedoso, quando me falta calma, bom senso, a classe, o juízo, lembro que aqui dentro está tudo na mais perfeita ordem. Quando me perco, me acho, quando a paixão me esquenta o peito, o ciúme ferve, quando sinto a pressão baixar, a voz aumentar, quando não acho a palavra, o jeito, quando rio na hora que não devia. Lembro que sou humana e homeoterma... E como isso é perfeito.

sexta-feira, 5 de março de 2010

Tem que ser selado!


A Camilla, do blog camillapreta.blogspot.com, que escreve coisas interessantíssimas, me presenteou com esse simpático selinho (Obrigada, pretinha). O lado obscuro do selo é que ele é tipo uma corrente, e o esquema é assim: Eu deveria dizer sete coisas sobre mim e depois indicar sete outras pessoas para ganhar o selinho. Mas o Janelas de Marina é um blog democrático e esse lance de escolher sete pessoas me parece um tanto segregador, sei que muita gente bacana e produtiva passa por aqui e seria um desperdício.
Fica combinado assim: Quem quiser ornar o blog com o selinho é só pegar e dizer que fui eu que dei. E sobre as coisas que eu deveria dizer sobre mim, coloquei as primeiras que vieram na cabeça (ta vai, não foram as primeiras porque eu sempre penso bobagens cabeludas antes de qualquer coisa), enfim, não queria assumir grandes responsas com opiniões fortes ou alto-afirmações, tem hora pra tudo, hoje é sexta e eu to leve (leve como leve pluma, muito leve, leve pousa... Ah Secos e Molhados cai bem).
Todo mundo é bem mais do que a imagem que cria. Semana que vem tem texto quentinho (No frio eu volto da padaria bem abraçada com o saco de pão, pronto comecei!).


- Odeio salsinha.
- O Mussum, dos Trapalhões, frequentava minhas festinhas porque era namorado da minha tia.
- Tenho uma relação passional com meu travesseiro velho e faço rituais antes de dormir, já achei que fosse TOC.
- Não posso ver programas de animais, tipo da Discovery porque fico com dó dos bichinhos comidos e até choro. Quando vejo futebol fico com pena de quem perde, principalmente do goleiro.
- Quando criança fui de maiô pra escola, num dia que tinha que ir de fantasia, aleguei que estava de nadadora e as meninas todas de fadinha, bailarina... e eu lá com meu maiô da speedo. Numa outra ocasião, recortei da revista anéis, brincos e colares de uma propaganda de jóias, colei com cola pritt pelo corpo e fui pra escola também.
- Adoro MPB, rock, samba, indie, blues, mangue beat, jazz etc, mas no carro gosto de escutar rap. Não gosto de música eletrônica nem de corno, mas confesso que em outros carnavais eu bem que dancei uns axezões.
- Não uso salto alto porque já tenho 1.77 de altura. Mas às vezes coloco só pra ficar me sentindo foda.

segunda-feira, 18 de janeiro de 2010

A apneísta


Silêncio gera reações um tanto controversas. Aproxima, afasta, une, confunde, constrange. Em silêncio os pensamentos se exaltam e nos impulsionam a ações. Ou paralisam. Duas pessoas em lados opostos de um campo de futebol podem se ouvir se o silêncio for absoluto, ao passo que o mesmo silêncio tem a força de criar um campo de futebol entre duas pessoas a menos de um metro de distância.
Silêncio constrói e destrói pontes, dá chance pro acerto ou abre alas pro erro. Ficar à vontade em silêncio diante de outra pessoa é cumplicidade e entendimento, delícia poder poupar palavras. Mas às vezes elas faltam à boca enquanto falam alto ao coração e eu não conheço onde abaixa o volume.
A renúncia das palavras infla de poder os outros sentidos, olhos e mãos se procuram, ou entram num processo de repulsa, dependendo do motivo que afugenta a voz. Silêncio é o embarque para uma viagem interior. E a passagem é para um só. Tirar alguém dessa viagem só é possível se a vontade de voltar vier de quem partiu. Mais fácil quebrar uma pedra do que o silêncio. Não há força que o quebre. Silêncio às vezes pesa, sai do peito e vai embora com o choro. E chorar em silêncio antes de dormir é proporcionalmente alivi a dor quanto vomitar quando se está bêbado.
Não se deve temer o silêncio, muitas vezes ele mostra mais do que as mais belas palavras e em algumas situações é a única saída. Fraquezas e virtudes gostam de curtir um romance proibido no escurinho do silêncio. Ponderação dança com o orgulho enquanto o rancor une-se à vontade de dizer que amo demais alguém. Um grande baile da vassoura atrás de uma lona chamada silêncio. Sem música.