Quem vem lá?

segunda-feira, 18 de janeiro de 2010

A apneísta


Silêncio gera reações um tanto controversas. Aproxima, afasta, une, confunde, constrange. Em silêncio os pensamentos se exaltam e nos impulsionam a ações. Ou paralisam. Duas pessoas em lados opostos de um campo de futebol podem se ouvir se o silêncio for absoluto, ao passo que o mesmo silêncio tem a força de criar um campo de futebol entre duas pessoas a menos de um metro de distância.
Silêncio constrói e destrói pontes, dá chance pro acerto ou abre alas pro erro. Ficar à vontade em silêncio diante de outra pessoa é cumplicidade e entendimento, delícia poder poupar palavras. Mas às vezes elas faltam à boca enquanto falam alto ao coração e eu não conheço onde abaixa o volume.
A renúncia das palavras infla de poder os outros sentidos, olhos e mãos se procuram, ou entram num processo de repulsa, dependendo do motivo que afugenta a voz. Silêncio é o embarque para uma viagem interior. E a passagem é para um só. Tirar alguém dessa viagem só é possível se a vontade de voltar vier de quem partiu. Mais fácil quebrar uma pedra do que o silêncio. Não há força que o quebre. Silêncio às vezes pesa, sai do peito e vai embora com o choro. E chorar em silêncio antes de dormir é proporcionalmente alivi a dor quanto vomitar quando se está bêbado.
Não se deve temer o silêncio, muitas vezes ele mostra mais do que as mais belas palavras e em algumas situações é a única saída. Fraquezas e virtudes gostam de curtir um romance proibido no escurinho do silêncio. Ponderação dança com o orgulho enquanto o rancor une-se à vontade de dizer que amo demais alguém. Um grande baile da vassoura atrás de uma lona chamada silêncio. Sem música.