Há 30 anos, não muito longe daqui, no bairro do Bexiga, uma morena muito gata iria prum boteco afogar as mágoas do fim de um namoro de oito anos com mais duas amigas. No bar havia um cabeludo mundrungo, com cara de quem voltou a pé do Woodstock. Só que o cara era bom de papo. E pensava alto, o que era melhor. Quando as moças resolveram ir embora, ele puxou a mais bonita pelo braço, pediu o telefone. No dia seguinte ele ligou e marcou um encontro. Ela tinha perdido a prática de encontros, pintou as unhas de laranja. A primeira frase que ele disse foi:
- Que esmalte horroroso.
A segunda não deu tempo porque ele tascou um beijão na boca dela. Depois de seis meses eles se casaram. Ele morava no Rio de Janeiro e veio pra cá. Compraram uma Brasília, um projetor e eram felizes vendo slides, ouvindo Chico Buarque, bebendo vinho bom quando dava e vagabundo quando não dava.
Dessa união surgimos eu e meu irmão, Pablo. Fomos crianças muito criativas e unidas. A morena gata e o hippie ficaram juntos por 17 anos. No dia do casamento fizeram um bolão, aquele que chutou mais alto, apostou que o casório duraria seis meses. Como dizer que não deu certo? Se durante esses 17 anos, nunca vi um desrespeito por parte dos dois, se eles se separaram, mas todos os Natais passamos juntos, com os namorados deles, e quem mais for querido para nós e tiver afim de festa.
Quando eu estava pra nascer, meu pai apareceu com um radinho de pilha e colocou um som pra minha mãe se distrair. Era “Drão”, do Gilberto Gil, até hoje ela chora quando escuta, considera “a nossa música”. A letra fala sobre a transformação de um amor, não no fim, como precipitadamente interpretamos a palavra “separação”. Meu pai e minha mãe comprovaram que o amor se transforma. O tempo inteiro. Só acaba se a gente faz dele indiferença, rancor, mas ainda assim se transforma. E acho que essa foi umas das lições mais importantes que a minha mãe me ensinou. Tudo bem que ela também me ensinou muitas músicas de palavrão, como quando começava a musiquinha do Fantástico e ela cantava gargalhando, no mesmo ritmo:
- É fantástico! Caralho de plástico! Boceta de elástico! É o cu da vida!
E para o dia das mães, armaremos um churrasco da pesada aqui em casa. Do jeito que ela gosta: Com caipirinha, violão, e banana com sorvete de sobremesa. Meu pai também vem. Nós vamos celebrar mais uma vez as transformações da vida.
4 comentários:
To aqui, no meio de um dia estressante desse meu trabalho e vc me fez chorar, simples assim... Mas foi um choro bom, choro de esperança... ah, o amor é lindo!!!
beijos Mazinha
Clau (Cavinato)
E vc herdou a melhor parte dos dois né Mázinha: Mundrunga, gata e boa de lábia. hahaha
Te amo e agradeço muito a esses dois por colocarem vc no mundo! Lindo txto! Sempre.
essa mina, quer dizer, sua mãe é tudo que quero ser enquanto mãe! ótima herança e bela inspiração para mim!
Menininha, adoro seus textos e é difícil não me identificar contigo pensando nas histórias lokas da nossa família. Preciso postar mais sobre isso para lhe mostrar como somos parecidos e sentimos as coisas na mesma frequencia!!!
Pode ter certeza que vc mora no meu coração....bjos e mais bjos
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