
- É... A sua linha da vida é super fraquinha e curta. Isso significa que sua saúde pode ser frágil ou então que você vai morrer cedo mesmo.
Fecho a mão rapidinho e a seguro com a outra. Mas que grande filho da puta esse meu amigo. Ele falou que sabia tudo de quiromancia (ler as mãos). Até então eu estava gostando, achei até que tinha a ver. Falou que eu era muita racional (tinha uma tal de linha da consciência que é super retinha); que eu teria poucos amores; que teria duas profissões simultâneas (até aí todo mundo sabe que eu sou jornalista e queria ser roteirista. Mas também posso fazer docinhos para fora); Até que me veio com esse papo que ia morrer cedo. Mal sabia ele que essa era uma nóia recorrente. Por várias vezes eu achei que poderia sentir a iminência da minha morte, como se ali, na próxima esquina ela me esperasse.
Não consigo me imaginar velhinha, com netos, cabelo roxo, cheirinho de pancake. Eu paro de imaginar depois de uns 40 anos, sei lá por que! E toda vez que fico sabendo que alguém morreu, fico pensando se em algum momento essa pessoa imaginou que isso aconteceria, se colocou uma cueca apropriada, se a meia não estava furada, se teve algum sonho alarmante no dia anterior... Eu tenho muito medo de não existir mais. De olhar aquele menino pelo retrovisor do carro na hora que eu vou embora e ser a última vez. E de causar um trauma na vida das pessoas. Dos meus amigos ficarem confabulando como foi a nossa última conversa e esse texto ir parar naquela comunidade de gente morta no Orkut.
Por outro lado, algumas coisas simples me fazem sentir tão viva que fariam valer a vida toda se ela findasse agorinha. Como quando estou dentro do carro e rola uma música que eu gosto... Aumento o som, abro a janela, e com o vento no rosto me identifico com a frase do Vinícius de Moraes que diz que “são demais os perigos dessa vida pra quem tem paixão”.
E se o picareta do meu amigo estiver certo e eu realmente morrer cedo? Com certeza eu preferiria acrescentar vida aos anos do que anos à vida. Eu poderia dizer que me diverti à beça, que sempre segui meu coração e procurei fazer o bem sem olhar a quem. E não é que teria valido a pena??
Por um lado é até bom não fazer tantos planos, então. Como vou saber se estou no meio, no começo ou no fim de tudo? Só posso dizer que torço para que meu passado seja curto diante do meu futuro, mas que por via das dúvidas todos os dias eu faço valer a pena.