Quem vem lá?

segunda-feira, 23 de março de 2009

Crônicas de um amor bobo


Tudo tem uma cronologia previsível para acontecer. Um dia você conhece alguém legal e passa a noite toda dando bons motivos praquela pessoa achar que encontrou o amor da vida dela. Ele ri de qualquer bobagem que você fala, acha seu cabelo bonito, suas unhas bem feitas e alguma graça no jeito que você dá risada. Tudo poderia permanecer nesse estado de intervalo entre o salto e o mergulho, mas não, as coisas mudam e tudo vira um jogo, onde ninguém quer dar o braço a torcer, demonstrar fraquezas. Ninguém conta que acordou no maior cagaço no meio da noite, com medo da pessoa querida morrer, depois de um pesadelo em que ela caía de um avião, empurrada por um palhaço. Aí um dia você cansa. Cansa de ficar dando bons motivos diariamente praquela pessoa acreditar em você, de se sentir uma monstra cada vez que não consegue ser uma pessoa melhor, mais sincera, menos orgulhosa, menos boca suja, menos bêbada, etc. Aí você se recolhe e segue pela vida com mestre Cartola ao fundo, dizendo que de cada amor tu herdarás só o cinismo. Crê que está fazendo a coisa certa, e lembra que a pessoa assoviava pelo nariz pra respirar, fazia barulho pra comer, tinha a meia furada e que você se livrou de uma. E como isso é cínico.
Até que um dia você conhece outra pessoa, ou reencontra a mesma, e começa tudinho de novo. Um eterno de javu, música no repeat, Gene Wilder estrelando “Dama de Vermelho” na sessão da tarde. Ou não. Ou você pode tentar o caminho da verdade. Uma grande pessoa me ensinou esse termo, que consiste em não fazer jogo de cena, deixar de cara as máscaras de lado e correr o risco de se mostrar exatamente como você é: preguiçoso, beberrão, repetitivo, ciumento, sonâmbulo, sei lá o quê. Isso seria não correr o risco dos velhos maus hábitos se potencializarem com o tempo, e sobressaírem sobre as coisas boas. Seria poupar que ali na frente, bem daqui a pouco, uma discussão babaca por uma opinião negativa sobre um amigo, sobre um rango, sobre o filme, gere um arranca-rabo daqueles e acabe de uma vez com seu domingo. Tentar o caminho da verdade é não fazer a linha, é agir com o coração sempre, admitir-se humano, sofredor feito um corintiano, cheio de defeitos e vontade de dar certo. E eu quero tentar.

segunda-feira, 9 de março de 2009

A importância de ser cortês


Nos últimos dias, dois fatos aconteceram em direções opostas, mas que me fizeram pensar na mesma coisa: a importância de sermos corteses, gentis. Todo mundo anda muito louco, muito apressado, muito preocupado, sem tempo, sem grana, sem tesão pra nada. É muito tentador entrar nessa também, mas eu sempre acho que vale a pena olhar no olho de alguém sorrindo pra dar bom dia (principalmente os desconhecidos), perguntar se está tudo bem e realmente ouvir a resposta. Mas tenho que admitir que também saio da linha e meu lado “curínthia” vem à tona. Explico: Semana passada fui com duas amigas à lotada Vila Madalena. Era domingo e eu tinha acabado de ir à churrascaria, nem sei o que fui fazer num bar lotado de almofadinhas, mas enfim lá estava eu procurando uma vaga quase impossível de se achar. Foi quando vi um careca atarracado colocando a chave na porta do carro, abri a janela e perguntei pro homem mola do He –Man: “Ei amigo, vai sair?” No que ele, no auge de sua simpatia responde “Vou sim, daqui duas horas, aproveita e fica aí olhando meu carro”. Huahahha convenhamos que foi boa, tanto é que minha primeira reação foi dar risada, isso é: até eu perceber que o cara tinha sido um babaca à toa. Quando vi eu já estava com a janela do carro aberta xingando até a última geração do sujeito, com o dedo do meio em riste, totalmente transtornada. Mais transtornada que eu, estava a mulher do cara. Uma loira feia que veio cambaleando lá do outro lado afim de briga também. Bêbada, ela xingava sem nem saber o que tinha acontecido, e eu que sabia (e era uma bobagem) xingava também. O trânsito andou, eu fui embora, mas ainda sob efeito daquela adrenalina negativa, pensando uma porrada de merda. Eu havia me transformado numa pessoa louca como tantas outras que vejo, capaz de jogar o extintor no carro de alguém que nunca viu na vida (uma das merdas que pensei). Quando me acalmei fiquei tão de bode que fui pra casa refletir. De frente pra parede e chapeuzinho de cone na cabeça, vi que eu precisava ficar mais de boa nas horas que realmente eram necessárias. Que se de noite, nas minhas orações, eu pedia sempre paciência, sabedoria e generosidade, mais chances, portanto, eu teria de usá-las.
Em contrapartida, apresento o outro fato: Dia desses estava fazendo as unhas e nessas horas sempre fico meio quieta, pois não sou muito chegada em papo de salão e também nunca sei o que está acontecendo na novela. Mas reparei no esmalte vermelho que uma senhorinha ao meu lado estava passando, elogiei a cor e, sei lá como,começamos uma conversa animadíssima. Ela me contou que também tinha se formado em jornalismo, mas que não exercia, contou das filhas, do cachorro, enfim. Depois ela foi embora e as manicures contaram que aquela senhorinha era meio quieta e até meio ranzinza, que nunca tinham visto ela conversar daquele jeito. E eu perguntei “Ué, mas alguém já tentou conversar com ela?” Silêncio. Uns dias depois lá estou eu dando um talento na manicure de novo, quando cheguei a recepcionista falou que tinha uma “encomenda” pra mim e me apresentou um pequeno pacotinho com um bilhetinho grampeado, nele estava escrito “Para a jovem e doce Marina. De Olívia.” e dentro, o esmalte que eu havia gostado. Um novinho. Fiquei tão tocada, o céu se abriu, tinha música no ar. Pensei: O mundo ainda tem jeito. E eu também!