Quem vem lá?

segunda-feira, 5 de julho de 2010

Vão- se os anéis, ficam os medos



Não gosto muito de contar coisas cotidianas aqui no Janelas. Gosto de contar como os fatos repercutem em mim, mas hoje vai ser diferente. Senta que lá vem estória.

Na última sexta (03/07) cheguei ao trabalho com o riso frouxo, estava tão contente e leve, que neguinho ficou achando que tinha usado entorpecentes logo cedo. É que a noite foi muito especial na quinta, me deixou em estado de graça nas horas que seguiram. Abri o email e li um poema lindo feito pra mim, da minha amiga Joana. Terminei de ler com os zóinho marejado.

O Brasil perdeu o jogo e saiu da Copa, fiquei emocionada, mas não sofri, isso é privilégio do Timão. Almocei espetinho e cerveja no Bar da Rosa com a galera do jornal, rimos muito. Estava num bom dia. Fato.

Fim de tarde. Voltei pra casa escutando Ben Harper, o som do meu despertador. “She´s only happy in the Sun”. Encontrei remanescentes do churrasco que perdi. Vários amigos no quintal, papeando entre os varais, coisa linda. Alguns abraços mais tarde, resolvi dar um bodinho.

Mas um sonho estranho começou antes que eu adormecesse. A galera foi embora. Na sala estavam minha mãe, meu irmão Pablo e a namorada dele. Começou uma gritaria. Fiquei em pé, branca, na porta do quarto tentando distinguir o que tava acontecendo. Ouvia meu irmão “Calma mano, pra quê isso, o que você quer?”, e coisas sendo arrastadas, chutes na porta. Fui até a beira da escada e minha cunhada falou baixinho “Má, estão assaltando a gente”. Voltei pro quarto e liguei pra polícia. Lá em baixo, na sala, apavoravam minha família e faziam ameaças. Fiquei com medo de a polícia chegar e os caras, em choque, causarem ainda mais.

Ouvi o cara mandando meu irmão ir com ele. Minha mãe tentando impedir. No fim das contas foi todo mundo. Fiquei agachada ao lado da cama em silêncio tentando ouvir qualquer coisa que sinalizasse o que acontecia, e principalmente, se estava sozinha em casa. Minha mão tremia tanto que eu não conseguia segurar o celular. Um pneu cantou na frente de casa, um estrondo no portão, e alguém começou a subir a escada no escuro, com uma lanterna na mão.

Entrei debaixo da cama. De lá, via os pés de um homem andar com respiração ofegante de um lado pro outro enquanto apontava a lanterna. Entrou no meu quarto. Rezei pra Deus e o diabo. Imaginava como seria quando me achasse. Pensava: no mínimo ele ficou aqui enquanto os outros levaram minha família ao banco, a polícia deve ter chegado e o doidão deve estar sangue nos olhos. Em questão de segundos, o medo de ser encontrada por alguém tomado de má fé, me fez pensar as mais variadas atrocidades. Nenhum Tarantino chegaria aos pés da minha imaginação.

Um filme se passou na minha cabeça. Em câmera lenta me vi rindo de manhã no trabalho; lembrei do poema; do sorriso de alguns amigos; da minha noite anterior; pensei nos meus pais; no pôr do sol de Boiçucanga; e também em coisas que tomaram tanto minha energia nos últimos tempos e que agora me pareciam tão pequenas; pensei em como demonstro amar as pessoas; como faço valer a pena “ser”... Tudo isso num suspiro, um piscar de olhos.

Acenderam a luz, tentei espiar e dei de cara com ele, que sacou a arma da cintura e apontou na minha direção gritando “Para, porra!”, medi o sujeito. Fardado. Caralho, era a polícia, nunca fiquei tão feliz em ver um policial. Ainda escondida, expliquei quem eu era. Putz, numa dessa ele atiraria, no susto.

Os policiais foram atrás da minha família, que essa hora já havia sido largada na Anchieta. Meu coração batia mais que a Mangueira na avenida, medo de alguma coisa acontecesse àqueles que pra mim são tudo... e aquele minutinho não me saía da cabeça... a visão dos pés, a luz da lanterna, a respiração, e a sensação que o fim da linha, precoce e injustamente chegava.

Tudo resolvido, os vermes levaram grana, objetos, o carro. Até aí foda-se, tomamos um prejú, mas estamos aí pra conseguirmos tudo de novo. Tudo em dobro. Falaram muita asneira, ameaçaram fazer muito mal à minha mãe e minha cunhada, em palavras que nem vale a pena reproduzir.

Penso a que ponto chega a maldade. No fim das contas fui tomada por um sentimento de compaixão, que vida desgraçada desses caras. Qual será a história deles, a partir de que momento se transformaram em dois lixos, capazes de invadir uma casa, insultar mulheres, bater em homens porque têm nas mãos uma arma... Sei lá... Convardia tem tantos aspectos... Pessoas subjugam outras sem estarem necessariamente armadas.

Mas enfim, hoje é segunda-feira e como ninguém decretou feriado, cá estou eu no trabalho. Sinal que a vida continua. Não é primeira vez que alguém testa minha fé, nem vai ser a última. Quando posso, bato no peito, quando não posso... Bom aí eu me escondo embaixo da cama!

7 comentários:

Camilla Dias Domingues disse...

maus!!!
mas como culpar os caras diante desse absurdo e desse mundo que vivemos, vale a sua reflexão dos caras terem uma puta vida desgraçada, lógico que isso não justifica mas se considerarmos todo o histórico de vida sobra alguma coisa ainda pra gente jogar na tese... acho que isso é dialética.

Joana Latino Americana disse...

Comecei a chorar só de pensar que eu podia te perder...
Como é que pode a nossa sociedade transformar isso em realidade?

Ainda acredito que o homem não nasce mal. Ele se transforma nisso. A gente tem que ser forte pra reverter esse processo.
E ser abstrato pra sacar que isso vai dar mais força pra gente, não vai deixar a gente esquecer que temos que lutar.

To aqui pra tudo!

Carol disse...

Se você morre seus amigos iam fazer tipo Quincas Berro Dágua hahaha...
Até contando coisas cabeludas, vc dá um jeito de deixar leve no final né Má...
E porra, sua cama é King Size né? Pra tu caber embaixo! hahaha

Beijos minha grandona amada

Anônimo disse...

Pssei na frente da sua casa sexta, vi um monte de viatura, achei que tinha caído a casa pra vocês!KKKK
beijão gata, qdo for assim me liga que eu te salvo
Rodrigo

Unknown disse...

Pois é Mazinha...
O susto já passou! O dinheiro volta, os celulares já voltaram mas a paz ao fechar os olhos ainda vai demorar um pouquinho!
Os filhos da puta eram tão feios que eles ainda estão na minha memória. Rs. E a sensação da boca de uma arma batendo no meu ombro direito ainda está em mim.
Mas é isso aí, as coisas acontecem quando tem que acontecer. Sejamos mais atentos daqui pra frente e sempre, sempre, sempre, pedir a proteção de alguém com a força "maior" que nós.
E isso só nos mostrou que estamos sempre juntas né? Até nisso...
Te amo, te amo, te amo e mil vezes eu te amo!
Beijão.

Suelen Bastos disse...

confesso que ri no final. um jeito bem humorado de se terminar um texto tão tenso. olha, eu fiquei tão tansa quanto quando leio Drácula. que nervoso! parecia eu ali embaixo da cama sem saber o que viria depois... graças a Deus vc e sua familia estão bem. tantas pessoas morrem por menos, mas vcs foram salvos.

Anônimo disse...

Nossa! nem sei o que te dizer, que Deus te proteja e que o Diabo carregue esses má elementos.