Quem vem lá?

segunda-feira, 1 de setembro de 2008

Eu e meu parceiro

- E agora vamos receber o segundo casal da noite! Uma salva de palmas para Pablo e Marina!
Neons piscam vertiginosamente em meio ao gelo seco que embaça a carinha de uma pequena multidão de pré-adolescentes ávidos por uma pagação de mico na beira do palco. Entro com minha saia rodada e avisto do outro lado o meu irmão. Vestido com uma roupa à la Piratas do Caribe e pesando o mesmo que pesa hoje, com quase 1.90m de altura.
“Chorando se foi quem um dia só me fez chorar, chorando se foi quem um dia só me fez chorar...” O som ecoava pelo pátio da escola enquanto eu mostrava meu requebrado digno de abertura de novela, pra deixar os bailarinos do Beto Barbosa no chinelo. Iniciamos o bate-coxa fraternal (aquele que fazemos projetando a bunda para trás, com medo de encoxar o parceiro) e o pessoal acompanhava com palmas e gritinhos de “Uh! Uh!” lá embaixo.
“Chorando estará ao lembrar de um amor que um dia não soube cuidar...” Nos afastamos e eu me preparava para fazer o passo carro-chefe de nossa apresentação, aquele em que a dançarina pulava no colo do cara, que jogava seu corpo de um lado para o outro. Era a carta na manga, o creme de la cream. “A recordação vai estar com ele aonde for...”. Corri. Pulei com as pernas arqueadas na cintura do meu irmão. E vi, em câmara lenta, a platéia mudando de ângulo, a cara de assustado do meu irmão e depois, o estrondo de nós dois caindo para trás comigo montada em sua barriga, foi praticamente um golpe. A partir daí, as gargalhadas tomaram conta de tudo e eu saí correndo deixando meu irmão jogado feito um leão marinho de lencinho na cabeça no chão.
Eu e o Pablo passamos por várias outras situações de enrubescer o rosto na infância. As dancinhas em datas comemorativas, as fantasias que minha mãe sempre improvisava (Isso o pessoal até deixava quieto porque achavam que nossos pais eram hippies), as fotos lá em casa não mentem: Nós fomos crianças incrivelmente engraçadas e desastradas. Com a diferença que o Pablo tirava boas notas. O tempo passou e hoje ele faz 29 anos. O menino de kichute com os cadarços amarrados nas canelas cresceu e tornou-se, acima de tudo, um homem de bem. Continuamos rindo dos desastres um do outro, que hoje são profissionais, amorosos, etc. Dia desses, ele ficou uma tarde inteira sentado na minha cama enquanto eu lia. Sem fazer nada, só ficou ali. Eu levantei um pouco os olhos, abaixando devagarzinho a capa do livro e o espiei com carinho, dando-me conta que ele é, com certeza, a melhor pessoa que eu conheço.

5 comentários:

Unknown disse...

Encare como um elogio: não dá pra saber de um sem pensar no outro. É como goiabada com queijo, cervejinha e amendoim,
praia e caipirinha,
sol e banho de mar
violão e voz
feijão com arroz,
coxinha com guaraná
bermuda e havaianas
Parabéns pelo irmãozão, Mazinha... vocês dois são TUDO de bom, na minha vida e na de taaaaanta gente...

Unknown disse...
Este comentário foi removido pelo autor.
Aline Ahmad disse...

Que história mais linda!
Tenho duas irmãs que amo com a mesma intensidade que você ama seu irmão. Também temos muitas cenas das apresentações "artísticas" que fazíamos em qualquer comemoração da família.
Beijos de luz,
Aline***
P.S.: Tinha postado com outro login...

Camila Fremder disse...

Por que vc demorou tanto pra fazer esse blog?? Só tive tempo de entrar agora, mas adorei!!
Bjos!
Camila

Bruno disse...

hehehe Má! eu me pergunto: Estaria eu neste dia da lambada??? Sinceramente nao me lembro, mas lembro muito bem de vcs dois naquela época, Pablo e Marina! rsss eeeelaia realmente uma alegria de cores vibrantes no meio de toda aquela mulecada, sempre rindo e fazendo zueira, consigui visualizar direitinho esse dia da lambada parece até um filme na minha cabeça, que ótima escritora vc se fez!
Um abraço muito forte pra familia, e pra essa dupla, eeeta saudade q da do ceis rsss Te amo lindona